BRINCANDO COM LETRAS
Na minha infância, enquanto as outras crianças se divertiam jogando bola ou com qualquer outra brincadeira infantil, eu brincava com as palavras. Criando frases, inventando histórias, escrevendo criancices, lendo e viajando pelo maravilhoso universo dos sonhos mais imaginativos e quiméricos.
Quando adolescente, escrevia poesias para as meninas mais lindas da escola, da rua onde eu morava, e entre aquelas com as quais tinha amizade. O critério de minhas escolhas e paixões eram beleza, meiguice, feminilidade, graciosidade e simpatia, e as garotas mais belas ganhavam meu coração. A princípio tudo platônico, as musas nunca souberam de minha admiração por elas, não foi nada fácil vencer a timidez típica de minha geração, com umas e outras exceções, é óbvio.
Minhas primeiras conquistas literárias nasceram de enredos juvenis, a maioria pueril, piega e romântica. O problema é que eu insistia em escrever amores puros e perfeitos, sem dramas nem traições, um mundo onde tudo dava sempre certo, não havia lágrimas. Eu acreditava em contos de fadas e na felicidade mais completa. Inexistiam vilões nos meus textos, a ponto de essa lacuna ser apontada por um dos jurados num concursos de contos. Mas eu não queria a maldade em meus textos, sempre desprezei pessoas de má índole. Descobri depois que o amor por si só não faz sucesso.
Até hoje sinto dificuldade em criar, imaginar e descrever um sujeito mau caráter. Os maldosos não cabem nas brincadeiras que invento com as palavras.