O Natal é meio sem noção, acreditem...
Juro que não compro outra, o Papai Noel que tenha a santa paciência, vai ter que engolir esta árvore de mais de quarenta anos, de novo. Consegui quebrar o pé do pinheiro, pensei em não gastar e não criar mais entulho, uma boa espanada e tá pronto. Ela era linda, grande, artificial, mas perfeita, certamente foi feita pelas crianças condenadas a trabalho escravo em algum galpão da China. Resolvi que esta vai ser a minha pequena homenagem a todos os que sofrem – à exaustão – para fazermos de conta que o Natal é justo e muito feliz. A mesma árvore, com o pé reciclado e camuflado de verde, irá conosco a todos os Natais. E os gnomos? Sempre desconfio que aqui em casa existem dois tipos de gnomos, um que rouba meias no inverno e outro que sequestra os enfeites da árvore de Natal. Geralmente temos que comprar algum enfeite para o pinheiro, pois a cada ano temos a sensação que ele está meio pelado, que falta algo, parece que um tipo de operação lava a jato andou por aqui, os enfeites evaporam, há muito mistério, muito...Tenho saudade dos meus Papais Noéis de feltro que o Max comeu, eram muitos, deve ter sobrado um, mas faz parte do folclore aqui de casa. Em todos os dezembros, o cachorro deslavado e dissimulado, passa por nós na corrida com a boca cheia de algodão e não nos dá tempo de salvar o boneco, nunca vi cachorro para gostar tanto de comer Papai Noel, além de sofá e garrafa pet. O outro, o finado Mike, sequestrou o peru da mesa, mas foi há muitos e muitos Natais, na casa dos meus pais. Não sei, mas já foram mais de dezoito bonecos, deve existir um último da caixa, não me encorajei a olhar. Este é o lado meio sinistro do Natal. O importante é que a nossa esperança verde e meio desbotada sempre acha um jeito de se renovar. Ainda no domingo vi um Papai Noel na serra gaúcha, foi na TV, era daqueles magros, cheio de arminhos e roupas de veludo, a criatura de Deus devia estar desidratada, suando em bicas, se esbaforindo, tendo calafrios, febre, tremores. Nunca vou entender bem estes Papais Noéis tropicais. Por sorte não temos renas, os pobres bichos iam viver de língua de fora, se babando, serra acima, serra abaixo. Mas todo mundo está na serra, se atolando de chocolate dos quatro pneus, casacos de frio, botas, tudo que tem direito, se duvidar, em pleno dezembro, luvas e toucas, é bem engraçado de se ver. O espetáculo, no geral, é bonito e vale cada minuto da ilusão, cada fagulha de esperança, cada volta à infância, cada desejo de paz. Precisamos, precisamos...