HEMINGWAY DE CABO A RABO

Resolvi ler/reler Hemingway de cabo a rabo, limitado aos livros que tenho dele na minha biblioteca particular, num total de seis.

Hemingway teve como projeto de vida ser escritor. E investiu nisso. Nascido em 1899 em Oak Park, nas imediações de Chicago, nos Estados Unidos, de jovem abraçou o jornalismo. Mudou-se para Toronto, em 1917, seguindo dali para Paris em 1921, para escrever ficção e estar em contato com outros escritores. Na época, a capital francesa era o centro cultural do mundo e vivia em total ebulição artística, com escritores e pintores de todas as nacionalidades esbarrando-se nos cafés e jardins da cidade.

Por meio de Gertrude Stein, também escritora e uma sua conterrânea, nascida em Pittsburgh, em 1874, Hemingway pôde conhecer, entre outros, o pintor catalão Picasso e os escritores Scott Fitzgerald e James Joyce, ambos em início de carreira e escrevendo suas primeiras obras. Eles costumavam se encontrar na casa de Gertrude Stein, localizada na Rue de Fleurus, número 27, e nos renomados cafés de Montmartre, o famoso bairro boêmio de Paris. As vivências e experiências desse tempo foram imortalizadas por Hemingway no livro "Paris é uma festa", publicado postumamente pela esposa do escritor, em 1964, a partir de seus manuscritos.

Hemingway tinha um espírito aventureiro e acreditava que os escritores deveriam conhecer os lugares e as experiências vividas pelos personagens a fim de dar maior verossimilhança às suas histórias. Em outras palavras: Hemingway experimentou na prática tudo o que narrou em seus livros. Participou de touradas e de pescarias para escrever "O sol também se levanta" e "O velho e o mar", e montou os enredos de "Adeus às armas" e "Por quem os sinos dobram" com base no seu trabalho de correspondente e de motorista de ambulância da Cruz Vermelha na Primeira Guerra Mundial.

Entro na minha biblioteca, aproximo-me da estante onde estão os livros de Hemingway e pego aleatoriamente o primeiro deles. É o Por quem os sinos dobram. Vou para a varanda, sento-me em uma cadeira de fio, abro o livro no primeiro capítulo e inicio a leitura. Pardais brincam nas vigas do telhado, o sol reluz nas folhas do pé de limão rosa da beira do muro e, longe, muito longe, uma nuvenzinha branca se despetala no precipício azul.

(Texto de Adeblando Alves da Silva)