FALANDO DO TEMPO
O tempo é uma criança que por vezes adora o doce, por vezes faz manha até não poder mais.
Se escora naqueles que lhe fazem cuidados com absoluta submissão até o momento em que vier
a entender que já os podem sumariamente dispensar.
Então vai buscar nova retaguarda, ou novo algoz, e assim sucessivamente até o fim dos dias.
O tempo é doce e cruel, exercendo esta ambiguidade com maestria.
Seu legado são os passos cravados nos chãos ungidos e o rastro de ar que perdura após a sua estada.
O tempo ruge diante dos ventos áridos e se descama quando a voz desanda a ofuscar a alma.
Daí lhe cabe respingar bênçãos bizarras pra todo lado, num frenesi que assusta até o Criador.
O tempo de todos se faz numa finitude atroz, quando menos supomos, ou esperamos, entoa um sonoro CHEGA! e decide represar seus dias, deixando de florir, de carpir, de arrematar.
Então só lhe restará a vala dos remidos, o torpor solene dos acasos intuídos e, sobretudo, a voz cravejada de uma mão amiga.
E nada mais.