FALANDO DO TEMPO

O tempo é uma criança que por vezes adora o doce, por vezes faz manha até não poder mais.

Se escora naqueles que lhe fazem cuidados com absoluta submissão até o momento em que vier

a entender que já os podem sumariamente dispensar.

Então vai buscar nova retaguarda, ou novo algoz, e assim sucessivamente até o fim dos dias.

O tempo é doce e cruel, exercendo esta ambiguidade com maestria.

Seu legado são os passos cravados nos chãos ungidos e o rastro de ar que perdura após a sua estada.

O tempo ruge diante dos ventos áridos e se descama quando a voz desanda a ofuscar a alma.

Daí lhe cabe respingar bênçãos bizarras pra todo lado, num frenesi que assusta até o Criador.

O tempo de todos se faz numa finitude atroz, quando menos supomos, ou esperamos, entoa um sonoro CHEGA! e decide represar seus dias, deixando de florir, de carpir, de arrematar.

Então só lhe restará a vala dos remidos, o torpor solene dos acasos intuídos e, sobretudo, a voz cravejada de uma mão amiga.

E nada mais.

 

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 07/12/2021
Reeditado em 07/12/2021
Código do texto: T7401665
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