Literalmente, ao pé da orelha!
Eu era muito jovem, ainda um adolescente, e já sonhava com a possibilidade de seguir a carreira militar.
Em nosso país, naquela época, seguir a carreira militar poderia significar uma, entre duas alternativas possíveis. Seriam elas:
Em primeiro lugar, eu poderia simplesmente me apresentar ao comandante do Exército Romano que dominava a Palestina do nosso tempo para defesa dos interesses do Imperador de Roma. Claro que isso traria consequências práticas para a minha vida e eu me perguntava: Quais seriam essas consequências?
Certamente os soldados romanos me considerariam um desertor das fileiras do exército de Israel e me veriam como traidor do meu povo e da minha nacionalidade. Uma situação incômoda, porém, contornável, pois, com a dominação dos romanos, Israel não possuía autorização do Império para manter o seu próprio exército. Com o tempo e pela prestação dos meus serviços, pensava eu, certamente o futuro me traria algum reconhecimento e, quem sabe, algum benefício.
Outra consequência, e esta muito mais séria, seria enfrentar o desprezo do meu povo, além de ser deserdado da minha família por estar me unindo ao usurpador do nosso território. Seria também considerado um traidor, pelos meus próprios familiares e amigos e, certamente, seria impiedosamente banido do meu convívio familiar. O fato é que eu precisava pensar, com seriedade, no julgamento do meu povo acerca da minha decisão de me tornar voluntário no exército de Roma.
Mas, havia também a segunda alternativa, e essa era muito menos complicada, além de me garantir o respeito do meu povo e "status" diante dos líderes da nossa nação.
Eu poderia me apresentar ao Sumo Sacerdote para servir como guarda do templo de Jerusalém. É verdade que o Império Romano não permitia aos judeus organizarem o seu próprio exército, mas nada impedia que tivéssemos, com a tolerância de Roma, os guardas que exerciam a proteção do Templo e do Culto dos judeus.
Na verdade, o Imperador romano utilizou-se deste artifício para manter os judeus dominados pelo Império promovendo a aculturação até os limites toleráveis por toda a Palestina. Noutras palavras, o governo civil era exercido por Roma, imposto pela força do poderoso exército romano, mas aos dominados era-lhes permitido cultuar os seus deuses, cultivar a própria religião e estabelecer a guarda do templo com os seus próprios soldados, desde que isso não significasse ameaça aos interesses de Roma.
Decidi optar pela segunda alternativa aproveitando-me da boa convivência da minha família com a família de Caifás, e foi assim que me vi como servo do sumo sacerdote naqueles dias agitados em Jerusalém.
Toda a agitação tinha tudo a ver com um certo galileu que, segundo se dizia entre os sacerdotes do templo e os fariseus, ocultava-se no meio da multidão para causar tumulto entre o povo e, dessa maneira desestabilizar a ordem pública mantida pelos soldados.
De fato, no início daquela semana o rebuliço foi total quando a multidão, com ramos de palmeiras, capas e outros tecidos forraram as ruas na entrada da cidade saudando o tal Jesus de Nazaré dizendo: "Bendito é o Rei que vem em nome do Senhor."
Mas, até onde eu sabia, ele não tinha nenhuma intenção de se esconder ou promover confusão no meio do povo. Ao contrário, apresentou-se no templo, promoveu uma faxina geral no pátio do templo retirando de lá os cambistas e mercadores que exploravam os fiéis com as suas mercadorias, repreendendo-os ao lhes dizer:
*"Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vocês fizeram dela um covil de ladrões."*
Para mim, que via aquele mercado acontecer no templo todos os dias, sinceramente, se pudesse eu aplaudiria a faxina promovida por Jesus. Aquilo era vergonhoso demais! No entanto, eu estava impedido de fazê-lo, embora fosse um dos guardas do templo, para não contrariar os interesses dos líderes religiosos e do próprio sumo sacerdote.
Foi na quinta-feira. Já era noite! Na verdade, madrugada da sexta-feira quando fomos chamados para atender a uma ocorrência urgente. Segundo soube, um tal Judas Iscariotes havia "descoberto" o esconderijo de Jesus e para lá nos dirigimos.
Chegamos primeiramente à casa de um dos amigos de Caifás, um comerciante que tinha uma empresa de pescados. Era a casa de Zebedeu e sua esposa Maria Salomé. Algum criado que atendeu ao comandante da guarda disse-lhe que Jesus não estava mais ali e que tinha ido com os seus discípulos para o jardim do Getsêmani.
Rapidamente fomos todos para lá onde o encontramos em companhia de vários dos seus seguidores. Observei que apenas dois deles estavam armados com espada à cintura. Aparentemente, todos eram pacíficos.
Ao comando do capitão da guarda, lançamos mão de Jesus e já íamos manietá-lo quando um dos seus discípulos, um daqueles que estavam armados, sacou da sua espada e veio em minha direção com o propósito de me matar para defender o seu Mestre.
Tudo aconteceu tão rápido, que eu mal tive tempo de me desviar do golpe da espada que caiu sobre mim e uma dor lancinante tomou conta da minha cabeça, no lado direito. Levei as mãos ao ferimento para constatar que a minha orelha direita quase fora decepada pelo golpe vigoroso.
Confesso que não entendi a atitude de Jesus ao repreender o agressor e vir até mim para, milagrosamente, recolocar a orelha no devido lugar e estancar completamente o sangue retirando toda a dor que eu estava sentindo.
Estupefatos, todos os soldados apenas observavam as mãos de Jesus, sem se preocuparem com a fuga de todos os seus discípulos que o abandonaram e eu, como que paralisado, sentia apenas as suas mãos amorosas e o seu olhar de bondade sobre mim. Nossos olhares se encontraram e foi aí que eu percebi o tremendo equívoco da nossa liderança religiosa quando ordenou a prisão de Jesus.
Não pude continuar! Os soldados o levaram e eu continuei absorto nos meus pensamentos. Dali, voltei ao templo e, não muito tempo depois, deixei a guarda do Templo e passei a proclamar o milagre ocorrido na minha vida, e tudo por causa do amor de Jesus.
Até hoje, eu não consigo compreender como as pessoas rejeitam conhecer a Jesus, visto que durante toda a sua vida Ele andou por toda a Palestina ensinando o povo acerca do reino de Deus e curando todos os seus enfermos.
Sinceramente, eu não entendo como é possível ao ser humano recusar-se crer em Jesus como o Deus que se fez homem para habitar entre nós a fim de promover a reconciliação da criatura com o seu Criador.
Sim, o Evangelho de Jesus é exatamente isso, ou seja, a busca do Deus Eterno por sua criatura que foi afetada e espiritualmente deformada pelo pecado, mas que pode voltar ao relacionamento com Ele mediante a Fé e o relacionamento com o Cristo ressurreto.
Não me envergonho desse Evangelho.
E você? Quer conhecê-lo?
Deus te abençoe!
Pr. Oniel Prado
Primavera de 2021
05/12/2021
Brasília, DF