Se você não conhece o E-Harmony faz parte do seleto grupo da população do mundo que usará meios tradicionais para encontrar o amor de sua vida. Sim! O E- Harmony promete, a partir de algorítmos, conectar pessoas pelo mundo em busca do grande amor: um encontro proposital entre almas gêmeas.
Fácil, não? Você responde um questionário sobre suas preferências, que vão desde a comida até a carga acadêmica, perpassando por situações cotidianas nas quais seriam necessárias intervenções diretas e você teria que tomar uma decisão. A Múltipla escolha do amor! Pergunto-me: estariamos nós ,diante da grande descoberta do século?
Se já deu certo na bolsa de valores, quando os algorítmos foram utilizados para compreender a experiência dos negociadores por um período, e comprovou-se que a pratica futebolística seria um fator preponderante para a euforia de alguns: Se o time ganhasse os "jogadores" ficavam mais corajosos e vendiam suas ações pela manhã, para renegociá-las a tarde porque não daria certo em outras áreas da vida? A Inteligência Artificial fomenta em nós perspectivas invioláveis à emoção.
Na teoria do algoritmo a precisão é indiscutível, não há ambiguidades, todos os padrões são equalizados, eficientes e corretos. Até que não seria nada mal, o computador que virou escola, família, loja, sustento seria agora o local do encontro certo, já me vejo ensaiando o beijo virtual. Mas e a tal faísca que Freud traduzia como química? Seria o fim das relações que pegam fogo? Nada que já não esteja acontecendo, não é caro leitor? Assistimos a dois casamentos com mulheres infláveis na internet, só nesse mês. E por falar em mulheres infláveis, vejo algumas impressas em 3 d com sobrancelhas arqueadas idênticas, seios fartos elevados pelas mãos do cirurgião plástico e cabelos lisos escorridos e alinhados (sem nenhum movimento,) nas redes sociais, já não são também irreais? Pensamento acelerado... Vou trazê-lo de volta. Mas e o amor e o algoritmo?
Para o amor, flexíloco por si só, desperto de dúvida, sem padrões lineares, os múltiplos significados se acumulam e a polissêmica odisseia.
É tão enigmático que se houvesse um encontro entre eles, alguém sairia ferido. O algoritmo viria de terno e gravata, bem alinhado, cabelo de gel e traria tudo anotado em seu macbook de cor neutra. Já o amor viria de vestido leve, sandálias havaianas, cabelos naturais, e de forma espontânea apontaria os seus defeitos e marquinhas do tempo. Sua carga viria numa bolsa sacola, sem repartições, acumulada e desorganizada. Atrasada, claro. E diremos como expectadores, quem foi o louco que promoveu esse encontro irracional?
Como nem tudo é flor de jasmim e estamos em ritmo acelerado para dar conta das exigências dos tempos modernos, o E- Harmony é um app dos "bem inencionados "que assim como nós, querem o amor perfeito. A única falha do sistema é que os "bots" unem pessoas que, invariavelmente se darão bem por terem tanto em comum, mas jamais conseguirão criar conexões profundas de alma. Seria uma tendência de mercado a abertura de fábrica de sentimentos? Devo investir?