Em uma certa "Repartição Pública"
Por Airton Soares
Enquanto aguardava uma certidão de antecedentes criminais ouvia atentamente as lamúrias da funcionária, que me atendia, à sua coordenadora. “Num vou ficar louca não!”
Uma vez fazendo parte do contexto, não me foi difícil traduzir os subentendidos da (in) servidora: É muito serviço, fulana, eu não vou ficar louca preparando pra hoje esse horror de certidões. Tem condição não!
O discurso, "Não vou ficar louca...", que infelizmente é presença constante na maioria das pessoas que trabalham no atendimento a clientes, não me pareceu uma simples maneira de dizer, um dizer hiperbólico. Observando o semblante da funcionária, realmente ela demonstrava ter medo de enlouquecer com o "horror" de tarefas a cumprir.
No entanto, pelo que pude constatar, a digitação constava apenas do nome do requerente, número do CPF e alguns dados de praxe. O grosso do texto já estava pronto em forma de matriz.
E continuou: “Daqui a pouco vai começar o infeerno.” Pronunciou a última palavra com ênfase. Posso até dizer que o fez com muita raiva. Por um triz não perguntei à servidora. Senhorita, há quanto tempo você está nesse “infeerno”? Tive medo de me “queimar” e a certidão não sair a tempo.
Achei melhor ficar calado. Sei que não fui assertivo. Engoli calado e isto me deixou angustiado. Me senti mal, pois como já disse não fui assertivo e nem havia clima para tal.
Ainda bem que tenho o leitor para `ouvir´ o meu desabafo.