Fui ao Céu e Voltei
Então você está em casa lendo um livro, jogando, cozinhando, vendo um filme, estudando… Espera, ainda não acertei o que você faz em casa?! Não é possível! Bem, não importa. Não vou impedir ninguém de fazer o que quer. O importante é que você está quieto em casa, mas o restante de seu lar não está tão quieto assim. Afinal, de repente, o teto do imóvel abre-se e um anjo desce dos céus para lhe falar:
— Então, Sua Onipotência está guardando algo especial para você, Maria. Você dará luz a um menino e…
— Eu não sou a Maria! — Você diz.
O anjo pareceu confuso e puxou um cartão de suas vestes:
— É claro que não… — Se corrige envergonhado. — Troquei as falas, me desculpe. Sua Onipotência lhe oferece a viagem mais almejada de todos os seus filhos, a ida à pós-vida antes da morte. Não me pergunte o porquê… — Ele sente ler a profecia errada de novo.
Você, evidentemente, fica pasmado e não acredita nesse erro da existência. Nesse momento até esquece se é ou não adepto de outra religião, para questionar aquela aparição espiritual específica.
Até que, enfim, você descobre a verdade maior, bem, a segunda maior. Aquilo tudo era uma alucinação, é claro. Você se sente tolo em acreditar. Por que logo você seria escolhido para ver o Além? Não fazia sentido algum.
— Quer ver ou não? — Perguntou o anjo, puxando-o à realidade estranha.
E você tinha como negar? Ver o que todos sempre quiseram saber e voltar para contar a história? Chega a ser estranho ser o escolhido para tal missão, soa até errado.
Será que a sua religião da qual nem se lembra mais é uma diferente daquela anunciada pelo anjo? Mesmo assim, quantos ateus veriam o Reino dos Céus? Com certeza é alguma brincadeira sem graça.
O que responder? O momento é delicado. Entretanto, não há verdadeiramente como negar. Conhecer pessoalmente a pós-vida e voltar! Quem em sã consciência negaria isso? Descobrir o maior segredo de todos, aquele que todos querem saber! Quer algo mais empolgante?
— Eu aceito, é claro. Quando serei enviado?
Como assim o que acontece depois? Quer saber o que tinha lá em cima? Não fui intimada para conhecer o Além, esse foi você. Eu bem queria saber o que você conheceu lá.
Ah, então você acha que só porque estou contando a história tenho que saber de tudo como um narrador onisciente? Você conheceu Deus em pessoa, como pode pensar que alguém como eu pode ser equiparável à Ele? Como assim não foi isso o que quis dizer? O que foi então?
Olha, tudo que sei é que um dia você precisa ir embora daquele Paraíso. Ei, não me olha assim! Você está vivo, não é? E quer viver com os mortos por toda a eternidade? Por que adiantar seu padecimento de tal maneira?
Eu sei, eu sei. Abandonar aquilo que por muitos séculos conduziu nossa existência não é algo fácil. Abandonar o lugar sem dor, maldade ou pecado e voltar para triste existência nesse planeta de mercenários.
A morte soa muito mais atraente depois que sabemos o que vem depois dela, e toda a nossa luta contra parece ser perda de tempo. Pensar naquele lugar durante todo momento em que se encontra consciente e almejar o retorno é o seu eterno fardo que pesa muito mais do que qualquer dor previamente existente.
O pior nunca foi sofrer, sempre foi perder a glória. Ficar cego logo depois daquele momento em que vemos o que nunca nos permitimos imaginar, mas, lá no fundo, sempre quisemos. Conviver com a tristeza é fácil quando não conhecemos a felicidade.
Bem, se lhe consola, essa não é a sua história. Afinal, você já viu o que vem depois alguma vez? O quê?! E não me contou o que é?! Enfim, essa é a minha história e de como eu realizei um sonho com o qual nunca ousei sonhar e de como perdi por não saber como manter.