COM O PASSAR DO TEMPO
Sempre tentamos fazer o que nos angustia passar, sumir. Mas de tanto tentarmos, parece que cresce, se expande e nos toma por inteiro mais do que o normal. Tudo em excesso nos sufoca. O amor, o ódio, a gargalhada, o choro. Tudo que vem demais, sendo nosso ou não, nos enlouquece, nos tira do prumo.
Estou sentada na praça de alimentação de um shopping depois de comprar um presente para um aniversariante da semana. Depois de comprado o presente, resolvo descansar e observar os passantes. Pessoas felizes, despreocupadas e livres dentro daquele aquário cheio de atrativos perniciosos, pois nos envolve com suas lojas alegres, seus truques e alardes promocionais.
Enquanto observo, fico pensando que durante aquela semana pensei menos em minhas tristezas habituais. Não que elas não tenham desaparecido, mas havia outras coisas tão mais importantes do que ficar deitada na cama, olhando para o teto e se derramando em lágrimas.
Fiquei pensando em nós. Você estava mais atencioso, menos rude, menos impositivo em relação às atividades as quais eu vinha desempenhando durante os dias.
Agora parece outra pessoa. Mais gentil, mais cordial. Talvez, você fosse sempre assim. Sim, sempre fora assim: gentil, atencioso e paciente. Eu é que era rude, desatenciosa e impaciente. O defeito de fábrica é meu e não teu.
Tenho que reparar esses meus erros. Tenho uma pessoa do meu lado há anos e não consigo ver. Sei que a minha presença basta para você.
E para mim?
Tenho medo de que o tempo passe e continuemos assim vazios de querer. Me sentindo menos bonita até que de repente eu descubra que deixei passar tempo demais e acordarei mais envelhecida, mais fraca, mais tola.