Além dos Livros de História
Quando aprendemos sobre José Bonifácio de Andrada e Silva nos bancos escolares, os livros de História do Brasil não vão muito além de ensinar que ele foi o tutor de Pedro II e ficou conhecido como o “Patriarca da Independência”. Quem soubesse isso sobre José Bonifácio numa prova, passaria de ano.
Uma reportagem do site “Mar Sem Fim” assinada por João Lara Mesquita, mostra um Bonifácio muito além dos Livros de História do Brasil. Nascido numa família rica, foi seduzido pelo Iluminismo. Era um crente da ciência. Erudito, sempre se interessou por diferentes áreas do pensamento humano.
Durante 36 anos viveu na Europa. Falava e escrevia em seis idiomas, lia em 11. Pertenceu a várias academias de ciências europeias. Nosso patriarca foi também o primeiro cientista brasileiro a fazer pós-graduação no exterior.
Na Alemanha entrou em contato com as melhores mentes da época. Teve aulas com Immanuel Kant, considerado o maior filósofo da era moderna. Lá também conheceu Alexander von Humboldt, conhecido como o primeiro ambientalista do planeta. Já escrevi uma crônica sobre Humboldt.
Mesmo dando pinceladas sobre a entrada de José Bonifácio na política após regressar da Europa aos 56 anos, o foco da reportagem de Lara Mesquita é o nosso patriarca também como ambientalista. O “ecologista do Império”. A visão da destruição da natureza do Bonifácio ambientalista foi despertada pelo naturalista italiano Domingos Vandelli. Uma celebridade da época.
Citando vários estudiosos, a reportagem viaja pelas visões e preocupações ecológicas de José Bonifácio. Na sua tese de doutorado José Augusto Pádua, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, diz que José Bonifácio foi um pioneiro. O primeiro político brasileiro a transformar a ecologia em projeto nacional. Alguém muito à frente do seu tempo.
Em 1790, na Academia de Ciência de Lisboa, Bonifácio redigiu o trabalho “Memórias sobre a Pesca de Baleias e Extração do seu Azeite. Nosso patriarca demonstrava sua indignação com as irracionalidades na morte das baleias. Em especial com a morte de baleias bebês.
Duas frases ditas por José Bonifácio que soam atualíssimas. Uma sobre mudanças climáticas. Outra sobre educação: “Destruir matas virgens como até agora se tem praticado no Brasil, é um crime horrendo e grande insulto feito à mesma natureza. Que defesa produziremos no tribunal da Razão, quando nossos netos nos acusarem de fatos tão culposos”? “No Brasil as ciências e as boas letras estão por terra. Tudo o que interessa é vender açúcar, café, algodão e tabaco”.
A reportagem aproveita um culto José Bonifácio para traçar um paralelo com os políticos do nosso tempo. Uma pesquisa feita pelo Congresso Nacional em 2011, revelou que apenas 8% dos deputados e senadores tinham mestrado ou doutorado. Quase 10% dos senadores sequer tinham ingressado num curso superior.