O GATO AMARELO
Nem sei por onde começar esta historia, ainda arfo de tantas e desencontradas emoções e meus pensamentos se embaralham desnorteados, o coração saltita, meus olhos permanecem esbugalhados. Pois se tudo se deu agorinha? E foi inesperado, repentino, meio assombroso, tétrico até. Não é exagero, acreditem, assim me sinto. Esperem, deixem-me respirar profundamente algumas vezes e permitir a poeira baixar.
Tenham um pouco de paciência, relatarei exatamente o que aconteceu da exata forma como tudo se passou, também estou ansioso para relembrar cada detalhe e todos os momentos do acontecido, puxa! Não foi nada fácil, preciso concatenar as ideias. Tudo bem, tudo bem, eu conto.
Abri a porta do apartamento do mesmo jeito impetuoso como sempre tenho feito, mas naquele momento apressava-me em sair para resolver uma pendência urgente, não podia demorar em sair. Levando alguns documentos, o vidrinho com álcool setenta por cento, usando a indefectível máscara, lá ia eu afobado. Então ele, não sei por que, saltou sobre mim tão-logo a porta se abriu, numa rapidez brusca e sem proporcionar qualquer condição de defesa. Quem saltou sobre mim? Ora, o gato amarelo, um bichano enorme, de olhos esmeraldinos, cabeçorra, patas escabrosas, unhas afiadas, rabo grosso e um corpanzil desmesurado. Eu caí sobre a porta sobremaneira assustado, abafando um grito de horror, mas não sem antes dar-lhe um safanão para desvencilha-lo de mim. Ele tombou para o lado, miou alto, equilibrou-se nas patas e encarou-me feroz. Claro, não demorei nesse interlúdio, imediatamente entrei no apartamento, o coração a mil, fechei a porta e encostei-me nela apavorado. Por que aquilo? De onde saíra tamanho gatão amarelo se nunca antes algo da espécie ocorrera? Parecia um tigre! Sim, faltavam as listras, sem dúvida, mas o bicho era enorme! Nunca o vira antes no pequeno hall do nosso prédio, ele surpreendeu-me como somente os felinos sabem fazer.
Corri para o interfone, falei o caso ao pessoal da portaria, pedi providências para a retirada do animal e aguardei. Pensando, sem compreender, atordoado, arfante. Era gato de rua, bichinho de estimação da vizinha ou de outro apartamento? Estranho, muito estranho, pois moro no quinto andar e, nessas quase duas décadas residindo aqui, jamais esse gato amarelo enorme apareceu na minha frente. Por que ele me atacou? As perguntas dançavam na minha mente quando o interfone chamou. Avisaram-me que o invasor pertencia a minha vizinha e já tinha sido recolhido por ela. Cauteloso, abri novamente a porta, olhei em todas direções, aliviado, e rumei ao meu destino pensando o motivo daquilo tudo, especialmente sem entender como nesses anos todos morando ali eu não havia visto antes o tal do gatão amarelo. Nem a razão do ataque.
Cada uma!