MESTRA DO ROMANCE POLICIAL
MESTRA DO ROMANCE POLICIAL
Ser reciclador tem suas vantagens, não precisamos comprar revistas nem livros... acrescentaria eu também roupas ou Tv, liquidificador, ventilador, várias outras coisas. Um trabalhador que não seja mero "lixeiro" inconsequente revistará cuidadosamente os bolsos de calças e vestidos e os cantos de valises, malas, carteiras e bolsas femininas. Nunca se sabe... quantas vezes já se achou dinheiro numa delas ! Mas o brasileiro comum continua irresponsável, jogando documentos pessoas e cartões de crédito sem inutilizá-los, um perigo real isso.
E finalmente li Agatha Christie... não sei se "Assassinato no Expresso do Oriente" é dela, porém "O Mistério dos Sete Relógios" tem semelhante estrutura e os acontecimentos se desenrolam num mesmo ambiente. Naquele, um trem "atolado" na neve e, neste, num castelo medieval e num casarão londrinos, com os envolvidos retidos nos dois locais e todos suspeitos, supondo-se que ninguém entrou ou sair. Mestra do romance -- que poderia ter a terça parte se visasse penas os crimes sucedidos -- Agatha vai nos informando a conta-gotas, distribuindo amenidades como o Padre Marcelo Rossi dá bênçãos (com balde e brocha) e serão justamente essas notazinhas irrelevantes que ajudarão o investigador do caso a esclarecer o hediondo crime. Contudo, "passamos batidos" pelos detalhes, "atropelando-os" como baratas no asfalto, para nosso azar.
A sistemática, o "modus operandi" que dirige a produção de um conto de terror ou policial é quase sempre o mesmo, com pequenas modificações: 1) o crime em si, de saída, e 2) os possíveis criminosos e seus motivos. A inversão dessa norma já nos surpreende... 3) no trecho final temos um detetive, um espião ou curioso decidido a encontrar o culpado e correndo êle o risco de virar a próxima vítima. Pronto, eis aí um bom romance policial !
Entretanto, em "O Mistério dos Sete Relógios" a contista decide surpreender o leitor bem além do que seria (ou é) obrigação de qualquer conto policial. E mais não digo nem sob tortura ! Procure um "sebo", loja de livros usados" e tente encontrar essa obra de 1929, o sacrifício valerá a pena. Passei boa parte da noite lendo-o e acordei mais cedo para terminá-lo. Que bela surpresa !
Uma inspiração desse nível só acontece uma vez na Vida e outra na morte -- diz a plebe ignara -- e a maioria de nós, mortais pretensiosos, passará pela Terra "rabiscando coisinhas" à guisa de contos, sem atingir o Olimpo onde estão Agatha, Conan Doyle, Simenon, Edgar Allan Poe e raros outros.
Quem gasta seu tempo com aventuras amorosas ou romances intergalácticos deixa de ler a Vida real e pulsante contida nas linhas de um conto policial, o perigo à espreita no fim de cada página e a "solução salvadora" -- nem sempre, por vezes trágica e terrível como o é a Realidade -- no trecho final de cada escrito. Nos basta esta emoção para justificar a leitura de um romance policial !
"NATO" AZEVEDO (em 29/nov. 2021, 6hs)