O barulho do rio
Barulho do rio
Amanhã, 03/12/21 fazem dois meses que se foi, pai.
Eu não iria escrever mais nada na vida. Nem receita de bolo... Sabe quando míngua a vontade de se expressar e só resta o vazio?
O luto ainda está difícil, mas você jamais queria que eu me entrega-se a tristeza. Além do mais, preciso me lembrar que a vida é cíclica e que tudo segue seu curso natural.
Como vou segurar a força de um rio? Estou tentando me acostumar com sua partida, meu pai. Mas ainda ouço barulho desse rio no meu ouvido. Entendo que esse rio possa estar me dizendo: "Vai, siga sua vida!" E eu tento obedecer essa voz, me recompor, cuidar de mim e juntando um caco de cada vez.
Quando paro para tomar fôlego, olho suas fotos. Essa, em especial onde você estava no quintal tomando sol, já bastante debilitado pela doença, distante nos seus pensamentos...
Em que estaria pensando, hein meu velhinho? Me atrevo adivinhar! Pensando em nós, em mim, na minha mãe e irmãos. Se ficaríamos bem com sua partida próxima. Sempre preocupado conosco e nunca consigo mesmo.
O barulho do rio me pede para seguir em frente e assim, faço um esforço sobre-humano pra obedecer. Estou usando seu travesseiro pai. Seu cheiro não sai dele e é tão macio que quando me deito sinto a sensação por uns instantes de estar deitada no leito de um rio e isso me acalma.
Obrigada por toda a dedicação e amor que teve por mim, desde o dia do meu nascimento até seu último dia aqui na Terra... Eu estou bem, e sei que você foi bem cuidado, mas é que quando você partiu eu morri um pouco...
Te amo eternamente.
Andreia Caires