QUE GERAÇÃO É ESSA ?

Quando entramos no século XXI, logo pensei: Que maravilha! Neste novo milênio, minha geração será superada em felicidades. Senti um pouco de inveja. Os jovens usando os mais novos mecanismos de comunicação e aproximando distâncias. Wattzap, Facebook, Stagran etc. Ah, minha geração não tinha isto. Éramos meio caipiras tecnologicamente. Apenas sentávamos em roda e discutíamos alguns assuntos. Falávamos de Futebol, novelas, filmes etc., e de vez em quando aproveitávamos o som de um violão, sempre dedilhado por um dos membros do grupo e acompanhado pelo coro dos demais. Cantávamos Roberto Carlos, Sidney Magal, Raul Seixas, Elis Regina. A pracinha era nosso palco, iluminada pela luz da lua. Nos dias de festa, vestíamos a melhor roupa, colocávamos o melhor perfume, ajeitávamos a cabeleira e pronto. Estávamos preparados. A ansiedade era tão grande que comprávamos o ingresso, ainda à tarde, na rádio Estação FM, e esperávamos, ansiosos, o começo da festa. Não tínhamos carros e íamos a pé. A rua parecia um desfile. Centenas de pessoas caminhavam lentamente pela rua principal até o Club. Tínhamos três momentos: O primeiro era a abertura dos portões. Ficávamos em fila. Ao entrarmos no club, já ouvíamos as músicas mais calientes. Dançávamos forró, lambada, merengue e tudo que fizesse o corpo mergulhar na fervura da música. Já alta madrugada, a festa dava uma paradinha. Era o intervalo! Todos aproveitavam o momento e procuravam para descansar um pouco. Ir ao banheiro ou beber alguma coisa. Quinze minutos passados, a festa retornava. Era tocar os tambores, e todos se levantavam para o segundo tempo. Agora, era hora das músicas lentas. Procurávamos alguém para dançar. As luzes ficavam mais escuras. E o som caliente era substituído por um ar romântico, na claridade azulada da iluminação. Em poucos segundos, o salão era tomado por dezenas de casais que, ao ritmo da música, dançavam apertadinhos. Quem não tinha seu par, começava a perambular pelo meio dos dançarinos à procura de alguém para dançar. Ao encontrar a garota pretendida ou por acaso, não precisava falar nada. Bastava esticar a mão para ganhar alguns bons minutos com a garota. Corpo colado, mãos na cintura e rostinhos próximos um do outro; dançávamos ao ritmo da música. Eram dois passinhos para o lado e outro que seguiam. Sentíamos o cheiro suado do cangote, misturado ao perfume. O corpo quente atiçava ainda o prazer da dança. Ali, ia o traquejo. De vez em quando arriscávamos um carinho nos cabelos, e dependendo do momento, poderia sair um beijo. Quem sabe o começo de um namoro. Ah! A noite estava salva! O grande troféu conquistado.

Senão! Partíamos para outra. Um NÃO nem sempre significava uma derrota, mas poderia significar um SIM, em outras tentativas. Depois de uns trinta minutos, as luzes voltavam a piscar e as músicas quebravam o ritmo lento, trazendo de volta o som mais quente. No final da madrugada, terminava a festa. Voltávamos cansados e satisfeitos. Portão escancarado, perambulávamos em nosso retorno pelas ruas. De pés descalços, descíamos em bandos suados, mas realizados. É alta madrugada, e a cidade dormia tranquilamente sem violência, sem brigas, sem drogas. Chegando em casa, aproveitaríamos os últimos minutos para dormir. Era a GERAÇÃO DE OURO.

Mas o tempo passou! Estamos em pleno século XXI e as novas gerações se tornaram superficiais, solitárias, egoístas, narcisistas, exibidas, egocêntricas, sempre com seus celulares viajam pelo mundo, sem saírem de lugar algum; na busca do inexistente. Não discutem política, mas defendem ardorosamente seus mitos. Agora, discutem Direita e Esquerda, Comunismo e Fascismo. Elementos que nossa geração haviam sepultado. Defendem a volta dos Atos Institucionais que um dia protestamos. Perdemos vidas! Mas cantamos a liberdade. Meu Deus! O que aconteceu com esta Geração? O racismo aflora a pele, e o autoritarismo articula a ideia de que todos se armem. As tochas da Ku klux klan foram acesas. Ninguém ouve mais: Beatles, Elvis, Rolling Stone. Que mundo estamos vivendo? Maquiavel encontraria um campo fértil para suas teorias e se assustaria ao voltar para os tempos remotos, em que sua filosofia do Príncipe, expressa as mais notáveis formas de fakes News, colocadas em prática. “Os meios justificam os fins”. Ideologias ultrapassadas ressurgiram das cinzas e ameaçam vigorosamente a paz e amor dos Hippies. Que geração é essa? Falar palavrões...xingar é tão natural que se coloca em xeque as nossas mais primitivas formas de desumanidade irracional com o próximo. A corrupção e a traição se tornaram colunas jornalísticas. Que geração é essa? O ódio, o racismo, o autoritarismo, brotam, escandalosamente, no coração das mais dóceis criaturas. Os redemoinhos de D. Quixote parecem renascer, assustadoramente, como demônios alienados às redes de internet. E uma geração de alienados ameaçam a colocar tudo a perder: O resultado de uma GERAÇÃO de OURO, que só queria PAZ E AMOR.

Que mundo é esse?

João Passos

Joao Passos
Enviado por Joao Passos em 01/12/2021
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