Mantiqueira

A montanha está lá, linda e distante. Inacessível até e é a mais linda de todas as montanhas, minha serra. Imagino que um franco-suíço olhando os Alpes - ou um peruano embasbacado diante da imensidão dos Andes - diria o mesmo, claro que também são absurdamente lindas as cadeias de montanhas que compõe estas cordilheiras, sim, mas a minha Mantiqueira é a mais bonita, se mais não fosse porque é minha, porque foram aos seus pés que “vinguei”.

A Mantiqueira chora rios que renovam a terra. Abriga diversificada fauna, exuberante flora – a Mantiqueira guarda segredos e eu também, coisas que não posso pensar e nem sequer contar.

Errei tanto, errei muito. Fiz sofrer pessoas a quem só deveria ter amado, mas não.

Que inferno eu arrumei pra mim! É um nunca acabar de arrependimento, sofrimento eterno esse.

Tantas e tantas vezes tive a chance de remissão. E nada! O egoísmo sempre a ditar regras.

As vezes que ele me olhou com ternura, sem nada externar, mas eu lia em seus olhos uma súplica muda "fala comigo, meu filho. Por Deus, fala comigo". Nada, silêncio. Hoje eu sou ele!

Aquela solidão é minha. Aquela tristeza é minha. Aquela súplica – não recriminação, súplica - muda é minha; pelos descaminhos do tempo nos encontramos e agora somos um.