A vida não para

E dezembro chegou. Com ele, o sentimento de gratidão se apresenta. A noite aproxima e o silêncio me faz pensar sobre as andanças deste ano que se finda. Algumas tristezas me abraçam, quando penso nos sorrisos e nas vozes que se perderam na estrada. Certos barulhos deram espaço à calmaria e, a vida foi seguindo o seu curso com menos força, cor e brilho.

Na tv vejo notícias dolorosas, de um mundo que vive em constante luta, disputa e choro. Desligo o aparelho. Então, pego uma garrafa de vinho e me convido ao deleite de uma bebida doce regada à música. “Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma. Até quando o corpo pede um pouco mais de alma. A vida não para…” Sim, é isso mesmo. O tempo gira com pressa e a rotina desenfreada me cega sem piedade. Preciso parar um pouco, respirar, sentir os prazeres devagar e caminhar a passos lentos. Viver é acolher o agora!

Avisto numa estante pequena um álbum antigo de fotografias. Como o relógio trabalha com velocidade, né? Em meio à poeira, observo uma imagem da minha avó sentada à beira da porta enquanto bebia o seu café. Ah, minha querida Ana! Quanta sabedoria havia por trás da sua expressão cansada e dos cabelos tão brancos! Recordo-me do seu ruído exausto, mas harmonioso, dizendo: - Minha filha, a pressa é uma forma de partir antes do tempo!

Eu não entendia e, talvez compreenda de modo raso ainda. Porém, aprendi que é necessário olhar os outros com demora, ser resiliente diante dos problemas e sempre carregar a empatia. Não posso deixar o colo disponível para amanhã, a mão estendida para depois e as palavras de conforto para outra ocasião. A vida não espera.

Peguei a taça com vinho e curti o som gostoso que me embalava nas últimas horas do dia. A cada gole a sensação de que a vivacidade precisa ser sentida com intensidade e, a cada canto a certeza de que a melodia acalmava o alvoroço habitual.

Lee Vieira
Enviado por Lee Vieira em 01/12/2021
Reeditado em 01/12/2021
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