AS AVES HUMANAS DA NATUREZA

Tão-logo desponta o sol, gotas de orvalho ainda respingando das folhas afogueadas e vívidas, pássaros cantando em saudação ao amanhecer, galos cantando o Império de seus terreiros e muita gente ainda dormindo, homens e mulheres humildes, algumas vezes acompanhadas por crianças, a pé, de bicicleta, em carroças no lombo de mulas ou engenhocas com dois pneus puxados por eles mesmos, saem às ruas como um brancaleonico exército para a labuta diária de revolver os sacos de lixo nas calçadas das cidades. Dessa labuta pouco convencional, abrindo sacos sujos, caixas velhas entupidas de lixo e dentro deles rebuscando sobejos, detritos, tralhas, restos orgânicos em muitas ocasiões putrefatos e os mais improváveis descartes residenciais, auferem um mínimo de sobrevivência. Do lixo eles retiram o parco rendimento para, ao menos, viver na linha um pouco acima da miséria.

Indiferentes à higiene, ao medo de possível contaminação de algum tipo de doença, à sujeira das lixeiras, a maioria sem luvas por falta de recurso, porque não se importa, em virtude de não possuir conhecimento quanto a seu uso ou em razão de não ter tempo para pensar nisso, posto que a concorrência é grande e nenhum segundo do dia pode ser desperdiçado com pequenos detalhes "insignificantes", catam e recolhem latinhas, garrafas pet, papelão, objetos velhos jogados fora por quem pode comprar outros novos e, até mesmo, móveis e eletrodomésticos defeituosos, com vistas a, ao fim da tarde, levar o sustento para a família.

Debruçados sobre os monturos nos terrenos baldios, as lixeiras e o amontoado de coisas para alguns inúteis abandonadas, retirando das ruas o que, em tese, terminaria jogado nalgum leito de rio, nos manguesais e no oceano, esses garis, a exemplo das aves que limpam a natureza, contribuem para tornar o nosso planeta menos poluído. Sem eles e a reciclagem que proporcionam, o caos ecológico seria, certamente, incalculável. É necessário e urgente conceder-lhes a importância a que fazem jus.

Talvez alguns os desprezem e humilhem, talvez muitos se esgueirem para distanciar-se deles, talvez outros tantos esbocem esgares de asco, talvez todos não parem para refletir o quanto o trabalho dessas "aves" humanas representa para o equilíbrio da nossa existência na Terra, mesmo numa escala mínima, ou seria média? Ou dir-se-ia superior? Eu os aplaudo, têm meu respeito, sou-lhes sobremaneira grato por tudo que fazem pela vida com seu humilde, porém de suma importância, trabalho. No intuito da sobrevivência, laborando nos locais mais insalubres eles ganham a vida e nos garantem um planeta mais limpo, saudável e habitável.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 01/12/2021
Reeditado em 01/12/2021
Código do texto: T7397711
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