O Homem Nu!

Algumas situações acontecem em nossa vida, sobre as quais não temos o menor controle.

Refiro-me, claro, a situações inusitadas que desconhecem o óbvio da previsibilidade e da razoabilidade permitindo que a experiência, muitas vezes, nos exponha ao ridículo.

Foi exatamente assim que eu me senti naquela madrugada fria, no interior do Getsêmani que era um horto ou, como também era conhecido, Jardim do Getsêmani, por haver ali um local utilizado para prensar as azeitonas e extrair delas o azeite que servia tanto para a culinária quanto também para iluminar os ambientes quando queimado nos candeeiros.

Tudo começou quando o meu senhor ordenou que eu fosse buscar água numa cisterna próxima à casa onde morávamos, ou seja, a família de Maria Salomé, seu esposo e filhos, bem como todos nós, os criados da casa.

Colocar um cântaro às costas ou na cabeça para transportar água era uma atividade própria para as mulheres, em nossa cultura, e não para os homens. Mas, quem sou eu para discutir com o meu senhor essas questões culturais? Como poderia eu deixar de obedecê-lo, se eu era tão somente um criado, ou, um servo da família que mantinha a mim e à minha família?

Como eu disse no início, viver uma situação ridícula perante a comunidade por estar realizando uma atividade própria das mulheres seria o menor dos males, se confrontado com a desobediência. Mal sabia eu que o Eterno estava proporcionando para mim a oportunidade única de conhecer o Mestre Jesus e ouvir, mesmo que, com o ouvido colado à porta do cenáculo, os ensinamentos d'Aquele que era reconhecido por alguns como o Messias prometido e que tanto bem vinha realizando no meio do povo curando os seus enfermos e aliviando os seus sofrimentos.

Eu já estava chegando em casa, de volta e com o cântaro d'água na cabeça, quando fui abordado por dois discípulos, um dos quais era filho do meu patrão. Eles pediram que eu chamasse o patrão e eu ainda ouvi quando eles lhe perguntaram:

"Onde é o aposento no qual hei de comer a Páscoa com os meus discípulos?"

Imediatamente o meu senhor levou-os ao cenáculo, um amplo espaço localizado no piso superior da casa e colocou-o à disposição de Jesus. Esse mesmo espaço, durante várias semanas serviria de abrigo seguro para os seguidores do Mestre, mas  é claro que eu nem de longe podia imaginar o que estava para acontecer.

Entardecia e a noite descia sobre Jerusalém que se preparava para a celebração anual da Páscoa. Nas ruas ainda, ramos de palmeiras que forraram o chão poeirento, qual um tapete majestoso, para a passagem de Jesus quando da sua chegada à cidade.

Lembro-me bem daquele dia e da agitação da multidão que corria à frente de Jesus gritando: "Bendito é o Rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas maiores alturas!"

Naquela noite, quando Jesus se fechou com os discípulos portas a dentro no cenáculo, eu permaneci do lado de fora, disfarçando a minha curiosidade como se estivesse pronto para ajudar no que eles precisassem. E foi quando o ouvi dizer:

"Não se turbe o vosso coração. Credes em Deus? Crede também em mim! Na casa de meu Pai há muitas moradas e estou indo preparar lugar para vocês. Mas, não se preocupem porque eu voltarei para buscá-los, pois eu quero que todos estejam comigo, no lugar onde eu estiver."

Precisei me retirar de perto da porta por causa de alguns outros criados que perceberam a minha atitude furtiva de "escutar atrás da porta" e isto poderia criar algum transtorno para mim, como criado da casa.

No entanto, fiquei por perto para observar os acontecimentos e foi quando vi um deles saindo apressadamente do cenáculo, com o rosto transtornado e aparentemente muito indignado. Era Judas Iscariotes, soube posteriormente o seu nome, e, pior que isso, soube que ele houvera se suicidado.

Não muito depois, saíram todos e se dirigiram para o Monte das Oliveiras tendo Jesus à frente. Como não ficara ninguém mais, fui para o meu aposento e já me preparava para dormir quando percebi uma movimentação estranha na casa. Pela fresta da porta, vi que eram soldados romanos e também guardas do templo, todos armados com espadas e lanças  tendo à frente o mesmo Judas Iscariotes que interrogava um dos criados sobre qual teria sido o destino de Jesus e seus discípulos.

Ouvi quando Judas lhes disse: "Vamos ao Getsêmani. Ele foi para lá com os discípulos!" E todos o seguiram. Pareciam furiosos  como se estivessem no encalço de algum malfeitor.

Não tive dúvidas. Enrolei-me no lençol que estava sobre o leito e segui o grupo, furtivamente, até o Getsêmani. Ainda cheguei a tempo de ver o tal Judas Iscariotes beijar o rosto de Jesus, como se fosse um código para que os soldados o prendessem.

Alguma conversa entre Jesus e os soldados e, de repente, todos os seus discípulos fugiram do local para evitar fossem igualmente presos com ele. Sem que eu me apercebesse, soldados também se aproximaram de mim julgando-me discípulo de Jesus e foi quando, com muito medo de ser preso,  corri entre as árvores deixando o lençol seguro pelas mãos de um deles. Nem mesmo me dei conta de que estava completamente despido para chegar em casa totalmente nu.

Que vexame! Ainda bem que todos estavam dormindo, sendo alta madrugada. Entrei na casa, sorrateiramente e fui logo para o meu aposento onde me recolhi aos meus pensamentos, temores e sobressaltos.

Não consegui dormir! Os nervos estavam à flor da pele e a adrenalina também estava muito alta. Tremia, mas não era tanto de medo ou de frio. Era emocional. Deitado em minha cama, lembrava do que Jesus dissera no início da noite: "Credes em Deus? Crede também em mim!"

Sim, é isso. Como é possível acreditar na existência de Deus e não reconhecer a Jesus como o Deus que se fez homem para habitar entre nós e manifestar para o ser humano a glória do Eterno através da sua própria vida e também da sua morte, devidamente compreendida por meio dos seus ensinamentos?

Foi preciso eu ficar totalmente despido  não apenas da minha roupa, mas despido de mim mesmo por dentro,  na consciência e no coração, para reconhecer que Jesus era, de fato, o Messias e o Salvador! O único Caminho e, absolutamente, a única Verdade capaz de aproximar o Homem do seu Criador.

Você não gostaria de conhecê-Lo como tal?

Deus te abençoe!

Pr. Oniel Prado

Primavera de 2021

28/11/2021

Brasília, DF

Oniel Prado
Enviado por Oniel Prado em 01/12/2021
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