"Alô! O Sr. Vinicius está?"
Tem exatamente uma semana que a moça liga nesse mesmo horário atrás do meu filho. Inoportuno momento pois é o meu horário de regar as plantas e árvores. Meu momento de sintonia com a natureza. Meu momento zen. Calma Dona Patricia. Calma. E elegância.
"O Sr. Vinicius está?"
A cada chamada respondo com sutileza e toda simpatia num texto prementalizado:
"Ele está trabalhando nesse exato momento, moça ou está na faculdade fazendo trabalho voluntariado até às 21h. Como posso ajudá-la?"
O script (roteiro) da jovem é a mesma ladainha de sempre, "Só mesmo com o Sr. Vinicius, senhora."
Desliga sem se despedir. Com certeza no treinamento de admissão aprendeu o jeito correto de finalizar uma ligação. Será que estava dormindo nessa hora? 🤔
Hoje, outra ligação e novamente ofereço ajuda. A mesma ladainha mútua.
Acho que o chefe da moça deve ter exigido mais resultados positivos, mais agressividade no seu 'performance' (desempenho) e 'update' (atualização) porque resolveu fazer um verdadeiro interrogatório dessa vez:
- Com quem falo?
- Qual seu parentesco com o Sr. Vinicius?
- Gostaria de participar da nossa Campanha Natalina? Ou se preferir tem a Campanha da Páscoa. Ou quem sabe, uma doação mensal em dinheiro.
- Quando o Sr. Vinicius estará disponível?
- Por favor, qual o número do celular dele?
Pergunto quem ela representa e sem aquele entusiasmo que toda moça/moço de telemarketing deveria ter ela responde: "É do Exército da Salvação, senhora".
Respondo, "Acho que está perdendo seu tempo, moça. O Sr. Vinicius é universitário e estagiário nas horas vagas numa empresa onde mal ganha para pagar a faculdade e o boleto da Tim. Está mais 'precisado' nesse momento do quê pode ajudar. Quem sabe depois de formado, se for a vontade do Senhor."
Creio que ela se desanimou ou não botou fé pois foi logo desligando e não voltou a ligar.
Além do mais, esqueceu de perguntar quando seria a formatura do Sr. Vinicius.
Para onde foi o espírito Natalino, gente?
Obs: Engavetado desde 28 de novembro de 2016.