O Social

Como era bom quando viver era apenas respirar.

Evoluímos, além de mato e musgos, descobrimos a carne. A caça, o sabor do sangue, a satisfação em matar algo e saciar, além da fome, o ego.

Acredito que algo no sangue dos animais tenha realizado uma transformação química em nossos cérebros. Passamos a matar mais que o necessário. Juntamos, conservamos e trocamos. A força se sobressai perante o coletivo, quem mais caça, mais tem para troca.

Quem produziu ou recolheu algo tinha como sobreviver, desde que tivesse interesse de troca daquele que ossuía o desejado.

Coisas inflacionadas, perante a necessidade. Pedras que se destacavam pelas cores e brilho, recebiam uma importância maior. A ostentação egocêntrica, destacava-se aqueles que mais acumulavam coisas. As normas coletivas começaram a ser "escritas", perante o respeito e garantia de boa vida ao poderoso.

E assim se perpetua. Uma boa convivência é sinônimo de anulação. Temos que trabalhar para servir o poder. Patrão, o político, a economia e a sociedade escorre, não vive, rumo a fossa da mediocridade.

Novos padrões surgem. Seja forte, sensível e resiliente, tudo ao mesmo tempo. E há quem se especialize nisso, como uma nova forma da tríade ordem/domínio/poder.

Hoje os fortes de ontem são fracos, possuem apenas músculos, trabalham para sobreviver. O poder se concentra na mente. Quem mente e domina a persuasão é grande e ovacionado.

A sociedade perde o sentido. Novas normas criadas com a mesma intenção de sempre. Criamos redes (antis) sociais, onde a exibição, o egoísmo e o julgamento prevalecem. Excluímos os excluídos de forma mais clara, separamos o "joio do trigo", damos créditos a qualquer um que tenha mais de 5.000 seguidores.

Cada dia mais anulamos o "eu" em sacrifício a um espelho social. Queremos e nos guiam a ser o outro, ter o que o outro tem e nos levam a morte, sem a posse desejada.

E na lápide aparecerá o meu ou seu nome? Uma realidade tardia nos é apresentada, morremos sós, morremos nós. As normas e a sociedade permanecem recrutando novos robôs programados para buscar a perfeição imposta que nunca chega.

Será que a morte é o passaporte para realizarmos o que o convívio social nos tirou?

Irá conhecer lugares que sempre desejou, comer e lambuzar como sempre quis, cantar ou proclamar poemas em praças, tocando as pessoas. Adormecer na areia em uma praia com a companhia das estrelas e amanhecer dando bom dia ao sol?

Não sei te responder.

Já que ninguém sabe, então viva e deixe o outro viver. Cada um responde por seus atos e erros e a sociedade, como sempre o julgará.

Amem.

Charles Alexandre
Enviado por Charles Alexandre em 30/11/2021
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