Das Minhas Lembranças 16
O registro de minhas lembranças são quase tão somente o que a memória dita. Digo quase, porque às vezes recorro à minha carteira profissional, para me situar no tempo. Pelo menos até agora.
Nos anos de 1981 a 1985 há uma lacuna em relação a minha participação nos movimentos sociais e na política. Sei que foram anos complicados, do ponto de vista financeiro. Ao examinar a carteira profissional, foram anos em que a mais-valia me pegou pra valer. Para sobreviver, requeri uma autorização da prefeitura de Belo Horizonte, para instalar uma banca de revista, na Av. Afonso Vaz de Melo, no bairro Tirol, região do Barreiro. Fui a alguns comícios, apoiei precariamente a candidatura no Guinho (José Maria Lopes), marquei presença nas manifestações pelas diretas-já. E no processo de eleições diretas (PED), que escolhe os dirigentes do PT, jamais deixei de votar.
Na pindaíba, a solução foi buscar a solidariedade de parentes e de alguns companheiros de luta. Decepção com uns, alegria com vários. Ainda hoje, ao lembrar de uma noite em que chorei pitangas com o meu amigo e parceiro de lutas, o Berzé, me emociono com a atitude dele, que também enfrentava dificuldades. Ele enfiou a mão no bolso e retirou uma nota, em torno de uns cem reais de hoje (acho que era cruzeiro na época) e dividiu comigo, dizendo: "já que não podemos dividir a riqueza, vamos dividir a miséria".