Mãos alheias
Ela transpirava um brilho, uma luz no olhar...
Bem arrumada, maquiada... cabelos encaracolados, mas arrumados. Bem trajada, discreta, elegante.
Ela perguntava algo sobre uma rota a um guarda próximo à saída do metrô, ao lado da prefeitura.
Saiu segura e confiante sobre as próteses das pernas. Sim, próteses desde o final das coxas em ambas a pernas.
Ia com a bolsa no ombro esquerdo. Os braços iam afinados só até os cotovelos. Sim, sem os dois antebraços, sem mãos.
...
No sentido oposto vinha um senhor aparentando sofrimento pela idade. Uns sessenta... Boné, jaqueta, calça social, bolsa tipo sacola nas mãos. Fisionomia cansada, deprimida... Demonstrava certo aborrecimento, apesar das tatuagens que lhe cobriam a face. Sim, toda a face, pescoço. Ah... e mãos. ...Tatuagens certamente feitas (bem feitas) por mãos alheias.
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Duas visões de mundo, dois mundos:
Um que tentou destacar-se a partir do exterior, outra que trazia luz interior, mesmo, vez ou outra necessitando de mãos alheias.