Dois irmãos, um rim e uma polêmica

Eis que vou contar uma historia de amor entre dois irmãos que se uniram ainda mais por conta de uma doença renal hereditária da qual foi acometido Marcelo, o irmão mais velho. Marcio, sendo compatível para doar um de seus rins, não pensou duas vezes e correu em socorro do irmão, doando seu rim esquerdo para Marcelo.

Marcio, que se diz sem ideologias políticas ou compromisso como direita ou esquerda, partiu rumo ao procedimento cirúrgico. Estando os dois no hospital, lado a lado depois do sucesso da cirurgia, já na sala de recuperação, meio acordados, meio tontos pelos efeitos da sedação, despertaram de vez com a TV ligada. Marcio pensou: “Que bom que tem uma TV neste quarto, pois já estou entediado com esse silencio”. Como nada é para sempre, nem mesmo a harmonia singela dos irmãos, eis que a programação se inicia com o pronunciamento do presidente Bolsonaro. Marcio indignado grita: “Genocida!”.

“Jesus Maria José!” Marcelo, que é de direita, pois nada é perfeito, ouvindo o brado de Marcio ficou muito irritado e saiu em defesa do presidente.

A discussão acalorada rendia muitas risadas dos pacientes e enfermeiros, pois não entendiam como os dois encontravam forças para tamanho bate-boca. Mas, como toda a briga de irmãos, não pode faltar gritaria, correria e confusão. Marcio deu um jeito de sair da cama sem ajuda de ninguém inventando um procedimento a “La Magaiver.” Ele torceu o lençol, passando pelo braço e pela cabeceira da cama, fazendo uma espécie de alavanca, içando o corpo e, assim, logrou sair da cama cheio de cateteres e soro conectados. Agora, conseguia chegar mais próximo do irmão para intensificar a peleia, já de bem mais perto.

As enfermeiras não sabiam se riam ou separavam os dois e uma delas falou: “Será que ele vai querer o rim de volta?”.

Na discussão acalorada, movimentaram a rotina do hospital. A equipe de plantão resolveu separar os dois por uma cortina grossa e cada um em seu leito. Marcio, de volta a sua cama, continuou resmungando e, com a separação deles com a cortina, só sobrou metade da TV para cada um.

No final, venceu o amor, além de render muitas risadas e não tem quem não se lembre do episódio sem dar boas gargalhadas.

Enfim, a paz voltou e, agora sem o pronunciamento do genocida, digo, do presidente.

Puxa vida! Até nessas horas o presidente rende o que falar. Eita!

 

 

Rejane Pinheiro
Enviado por Rejane Pinheiro em 28/11/2021
Reeditado em 27/04/2024
Código do texto: T7395616
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