a voz
Era uma noite qualquer como todas as outras, a janela do meu quarto dava vista para uma enorme floresta, a lua no nascente fazia as folhas das árvores brilharem de forma convidativa e obscura, as férias pareciam não terminar, não tinha muito o que fazer, e eu estava presa em um chalé em uma parte isolada do Ceará, mesmo em meio a vegetação seca, as árvores da floresta estavam vivamente verde, não tinha saído desde que cheguei, perdi todas as trilhas e vários momentos com a natureza, então sair nesse momento não ia me fazer mal, precisava respirar.
Quando meu pai chegou de uma trilha me contou uma história de que o chalé foi construído no lugar de uma antiga tribo indígena, que faziam grandes rituais místicos ali, mas nunca me importei; já estava margeando as primeiras árvores quando um vento soprou em minha pele e trouxe aos meus ouvidos uma voz que vinha por entre as árvores me deixando assustada e sem reação, fiquei imóvel por alguns segundos tentando ver no meio da escuridão.
Mais uma vez ouvi a voz, um som gutural, forte e estridente, sem controle algum sobre o meu corpo corri a toda velocidade para onde meus olhos não viam, entrando cada vez mais na floresta. Não conseguia gritar a garganta estava rouca e meu peito doía como nunca, estava perdida e apavorada, já tinha controle sobre o meu corpo, mas não conseguia parar de correr desesperada, perdida e cansada, não sei quanto tempo passou até que cheguei a uma clareira, não sabia o que fazer, estava sem folego e sem voz, sentei no chão recostando-me em uma árvore olhei para lua no alto do céu, meu corpo estava muito dolorido, só conseguia chorar e chorei até desfalecer.
O sol já brilhava forte quando acordei, ouvi várias vozes distantes gritando o meu nome, não conseguia gritar de volta, fiz o máximo de barulhos possíveis para chamar atenção, meu pai estava acompanhado de um amigo quando correu até mim, chamaram as outras pessoas que chegaram aos poucos tentando me ver, ainda não conseguia falar, minha boca não emitia som, e chorei mais uma vez escandalosamente sem ruídos. Pensei que ia passar, mas nunca aconteceu, depois de muitos médicos não saberem o motivo, desisti e resolvi aceitar que a voz que eu ouvi na floresta era minha, pois ela tomou-a de mim.