PROCURO UM GATO
Nair Lucia de Britto
22 de agosto de 1995
“Procuro um gato nesse mundo cão. Um candidato à vaga do meu coração”, assim começa a canção da Rita Lee. Mas o gato que eu procuro é outro. Ele se chama Charlie, por ser branco e preto, e é uma graça!
Éramos tão bons amigos eu e ele. Nos identificávamos muito, ou seja, Charlie não tinha pressa pra nada, eu também. Era muito amoroso, eu também. Gostava de ser paparicado, eu também.
Ah! O Charlie me entendia melhor do que qualquer pessoa. Quando eu estava triste ou me sentia só, lá vinha ele; pé ante pé me fazer um chamego. Costumava ficar horas a meu lado, calado, sem se dar conta do tempo que passava.
Gostava de ficar no meu colo, quando eu estava assistindo televisão sentada no sofá da sala. Deitava a cabeça e ficava esperando pelo cafuné, pois é! Outras vezes, cochilava ou, se acordado, ficava me olhando com aqueles olhos infinitamente verdes. Tão expressivos que o olhar dele me falava mais do que qualquer palavra.
“Eu te amo”, me dizia. Eu respondia:
-- Charlie, deu muito encanto à minha vida, sabia!?
Nas manhãs ensolaradas ele gostava de brincar no jardim. Ficava entre as azáleas cor-de-rosas e as margaridas brancas, plantadas por mim. Ficava um tempão entretido acompanhando as borboletas voando daqui para ali, cheirando as flores.
Ele erguia uma das patinhas brancas, parecendo luvas, sobre o pêlo preto, tentando alcançar alguma borboleta mais distraída. Qual o quê? Elas escapavam, ligeiras e feiticeiras de tão bonitas...
Mas quando a lua aparecia nas noites escuras, o Charlie escapava. Disfarçadamente, lá ia ele atrás de uma certa gata, sua namorada, e lá escondiam-se os dois por entre os galhos de alguma árvore, em cima de um muro mais alto, para trocarem juras de amor nada discretas,
ecoando no silêncio da madrugada.
De manhã o Charlie reaparecia.
Mas numa dessas manhãs o Charlie não voltou. Era uma manhã cinzenta, fria; assim como meu coração, apertado com a sua ausência, ficou. No jardim as flores empalideceram e as borboletas não voavam mais com a mesma alegria.
-- Charlie, Charlie! – eu o chamava, dia após dia, na esperança de que ele me ouvisse.
Mas qual o quê – ele não me atendeu, por que seria?
Então, comecei a apelar para toda vizinhança:
“Eu procuro um gato,
Nesse mundo cão...”
Se alguém achar, venha me avisar
Pra esse meu coração
Parar de chorar!
Nair Lucia de Britto
22 de agosto de 1995
“Procuro um gato nesse mundo cão. Um candidato à vaga do meu coração”, assim começa a canção da Rita Lee. Mas o gato que eu procuro é outro. Ele se chama Charlie, por ser branco e preto, e é uma graça!
Éramos tão bons amigos eu e ele. Nos identificávamos muito, ou seja, Charlie não tinha pressa pra nada, eu também. Era muito amoroso, eu também. Gostava de ser paparicado, eu também.
Ah! O Charlie me entendia melhor do que qualquer pessoa. Quando eu estava triste ou me sentia só, lá vinha ele; pé ante pé me fazer um chamego. Costumava ficar horas a meu lado, calado, sem se dar conta do tempo que passava.
Gostava de ficar no meu colo, quando eu estava assistindo televisão sentada no sofá da sala. Deitava a cabeça e ficava esperando pelo cafuné, pois é! Outras vezes, cochilava ou, se acordado, ficava me olhando com aqueles olhos infinitamente verdes. Tão expressivos que o olhar dele me falava mais do que qualquer palavra.
“Eu te amo”, me dizia. Eu respondia:
-- Charlie, deu muito encanto à minha vida, sabia!?
Nas manhãs ensolaradas ele gostava de brincar no jardim. Ficava entre as azáleas cor-de-rosas e as margaridas brancas, plantadas por mim. Ficava um tempão entretido acompanhando as borboletas voando daqui para ali, cheirando as flores.
Ele erguia uma das patinhas brancas, parecendo luvas, sobre o pêlo preto, tentando alcançar alguma borboleta mais distraída. Qual o quê? Elas escapavam, ligeiras e feiticeiras de tão bonitas...
Mas quando a lua aparecia nas noites escuras, o Charlie escapava. Disfarçadamente, lá ia ele atrás de uma certa gata, sua namorada, e lá escondiam-se os dois por entre os galhos de alguma árvore, em cima de um muro mais alto, para trocarem juras de amor nada discretas,
ecoando no silêncio da madrugada.
De manhã o Charlie reaparecia.
Mas numa dessas manhãs o Charlie não voltou. Era uma manhã cinzenta, fria; assim como meu coração, apertado com a sua ausência, ficou. No jardim as flores empalideceram e as borboletas não voavam mais com a mesma alegria.
-- Charlie, Charlie! – eu o chamava, dia após dia, na esperança de que ele me ouvisse.
Mas qual o quê – ele não me atendeu, por que seria?
Então, comecei a apelar para toda vizinhança:
“Eu procuro um gato,
Nesse mundo cão...”
Se alguém achar, venha me avisar
Pra esse meu coração
Parar de chorar!