Luto Branco
Luto Branco
É meu quarto dia longe da sala de aula. Das quatro turmas com quem passei mais ou menos dois meses. Choro algumas vezes por dia porque não consigo aceitar o fato de que eu não posso mais lecionar, por alguns motivos.
Essa dor na alma me machuca muito. Alguns alunos já desconfiam disso ou sabem de algo – ninguém é idiota.
Nunca, em toda minha vida, eu me lembrava de ter passado por algo assim. (Tá: em 2018 eu amarguei um monte de dor na alma, mas isso não se parece em nada com o fato de eu ter de deixar a sala de aula às pressas...)
Aqui, em meu cantinho, posso desabafar. Posso vomitar. Xingar o mundo – que se dane, certo?
Mas não. Prefiro pensar que seria muito mais viável um povo trocar seus "governantes" como quem troca de professores.
Eu irei superar isso. Não sei quando nem como. Mas irei.
Eu sinto falta de minhas turmas. Muitos alunos lá estão amando que eu não volte mais (questão de gosto; isso eu não discuto). Outros, entretanto, devem sentir saudades de nossa interação, de nossas trocas de ideias.
Eu desejo demais ingressar em uma nova jornada, em outro lugar. Longe, longe, longe dessa vidinha em que minhas ideias não têm vez. E voltar a ter meu espaço. Eu sofro demais. É o quarto dia longe deles. Eu tenho chorado muito, sabe? Isso tem doído demais em mim.
Mas uma dor assim pungente não há de ser inutilmente. A Esperança dança. E a gente vê, ainda, nessa dramática dança das cadeiras, bêbados e equilibristas a trocarem de função. A tarde cai feito um viadúltero – em cada esquina buzina o silêncio da ausência deles. In utero. Impróspero.
Uma enfermeira trajando luto desce em direção aos Céus.
Não, porra, não fumei merda nenhuma. São vocês que não entendem os códigos que eu uso em meus textos.