Caso antigo

Caso antigo

Rua , cúmplice das noites arredias, no outonal desterro de sombras.

Na esquina esguia, a silhueta fria de uma mulher faminta de poesia.

Meia noite. Música estridente. Entre dentes, Carmem murmura dores e

lamentos.

Retoca o carmim, no fosco espelho, sofrido pelas madrugadas infrutíferas.

Resmunga um verso, que outrora fizeram só para ela.

A vida não lhe concede sonetos. Apagados delírios, imagens falsas, reatam sua insone vida.

O último alento esfria o café, no copinho de plástico, amarrotado pelas amargas lembranças cotidianas.

Valeu a pena? Tomou o último trem, sorveu o último gole, lançou o derradeiro adeus e...

O rio levou o sorriso da Carmem , carregou seu espelho e jogou tudo no mar. Porque ela era

Uma sereia da noite.

GARDÊNIA SP 16/11/07

Gardênia
Enviado por Gardênia em 16/11/2007
Reeditado em 12/03/2021
Código do texto: T739366
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