Caso antigo
Caso antigo
Rua , cúmplice das noites arredias, no outonal desterro de sombras.
Na esquina esguia, a silhueta fria de uma mulher faminta de poesia.
Meia noite. Música estridente. Entre dentes, Carmem murmura dores e
lamentos.
Retoca o carmim, no fosco espelho, sofrido pelas madrugadas infrutíferas.
Resmunga um verso, que outrora fizeram só para ela.
A vida não lhe concede sonetos. Apagados delírios, imagens falsas, reatam sua insone vida.
O último alento esfria o café, no copinho de plástico, amarrotado pelas amargas lembranças cotidianas.
Valeu a pena? Tomou o último trem, sorveu o último gole, lançou o derradeiro adeus e...
O rio levou o sorriso da Carmem , carregou seu espelho e jogou tudo no mar. Porque ela era
Uma sereia da noite.
GARDÊNIA SP 16/11/07