(Republicação)

Quando o avião esta pousando, da aquela coisa dentro do coração. Já posso enxergar o sol através da pequena janelinha limitada do meu assento. Acompanho o pouso, com emoção!
Não dá para explicar... o  coração bate alto ... algo  aquece minha alma neste momento.

Descer do avião e deslizar pelo corredor. Ouvir: "Bem vindos ao Brasil" dá uma coisa aqui dentro, uma agitação, uma vontade de sorrir sem parar.
Entro na fila dos brasileiros, guardo meu Passaporte Americano na bolsa, e sigo orgulhosa por estar naquela fila. Apresento meu passaporte Brasileiro  e passo. Aquele passaporte me dá o direito de pisar no chão do meu Pais. Bendito passaporte! Procuro minhas malas, esbarrando nas pessoas e ainda falando "sorry" em vez de "desculpa!".

A maior felicidade eh quando depois de pegar as malas na esteira, me dirijo ao aeroporto. Como sempre, paro no primeiro barzinho para tomar um guaraná. Isso não abro mão. Sorvo lentamente aquele gosto de Brasil. Desce pela minha garganta aquele gosto tão conhecido de infância, de almoços, de família, de amigos.

O ano passado descobri ter um onibus direto do Aeroporto de  Guarulhos para São José dos Campos. Não avisei ninguem que da minha vinda. Somente meus irmãos sabiam. Coloquei minhas malas, e subi para meu assento.
"Moça , pode colocar seu nome aqui no bilhetinho da passagem e o seu RG?" Essa era nova. Preenchi e entrei.
Da janela comecei a beber a paisagem enquanto o onibus cortava o caminho. Tantas lembranças de Sao Paulo, das estradas, daquele céu que não há comparação, da vida, não sei, o movimento brasileiro e diferente. Uma comoção...um agito  diferente. Uma energia que sobe como fazendo uma fumacinha.

Encostei a cabeça no banco olhando melancolicamente pela janela. Uma mistura de alegria e tristeza. Tristeza por estar fora do meu Pais. Alegria por estar de volta.
O onibus parava para pegar passageiros. Cada um que entrava dizia uma coisa diferente para o motorista e fui pensando e comparando como aqui nos Estados Unidos tudo eh diferente.
O formalismo impera, enquanto essa espontaneidade do brasileiro me cativa.
"Nossa moco, moço, obrigada por parar! Pensei que nunca fosse conseguir um onibus hoje!
"Bom dia, obrigada, que horas chega em São José?"
"O sr. pode dar  uma paradinha no Frango Assado?"
Fechei os olhos, concentrando-me nas vozes, na minha língua. Ali, eu era igual a todos aqueles daquele onibus. Eu não tinha nenhuma diferença deles. Eu era a mesma. Comungando dos mesmos sentimentos.

E o onibus  foi passando, aquela paisagem tão conhecida. Pedaços que eu nunca esqueci, e foi passando na minha cabeça como um filme antigo. Frango Assado e seu pão delicioso. Kodak a direita, Johnson a esquerda. Restaurante da Gruta, aquele sanduiche divino de salame com queijo derretido.

Pisei na casa da minha irmã e já fui colocando meus jeans, minha camisetinha peladinha, pé no chão, alcancei na mala minha sandalinha de dedinho. Pronto! O mundo podia acabar que eu já estava feliz.
E os dias transcorreram alegres, macios, ensolarados. A família se reune no Domingo para um almoço. Abraços, alegria, violão, cantoria, felicidade. Almoço recheado de carinho, de risos verdadeiros, de saudade.

No outro dia sai de manhãzinha para andar na rua. Que coisa gostosa, andar pelas calçadas, sentindo aquele sol quente. Carros passando, buzinas...a Padaria de esquina. Entrei para comprar uma água com gás. Continuei andando dando aquelas respiradas profundas naquela energia toda. Passa um homem ao meu lado e diz: "Gostosa!" (rs). Sim, definitivamente eu estava no Brasil. Aqui nos EUA ninguem mexe com ninguem na rua! Ri silenciosamente.

Nos diversos dias que la estive, provei a comida de quilo. Não saberia dizer qual gostei mais. Comi coxinha...nao sei quantas vezes. Fui na feira livre, comer pastel procurando pelo queijinho la no cantinho, matando a saudade das bancas cheias de frutas... "Vai uma banana ai Moça?"

Na Padaria de manhã: "moço me da um pingado (cafe com leite) com um paozinho com manteiga?"
Na Padaria a tarde: "moço  me da um pao com mortadela e guarana?" (sou vegetariana, nao como carne, mas quando vou para o Brasil, ao pedir mortadela fecho os olhos e  penso que ela nasce da minha horta de verduras, e me recuso pensar que e carne! AMO!). O café forte que levanta até defunto!

O encontro com meus amigos, os abraços, a emoção!

 

Com a familia!


Assim é o meu Brasil, cheio de energia a cada esquina. Não há como não perceber o ritmo do coração  do brasileiro, porque ele bate forte. Alto! Na rua o povo se mistura, a alegria contagia.

Meu Brasil, quanto eu te amo! Com todas as letras!

Quando voltei para os EUA fiquei duas semanas  depressiva. Sentia saudades das ruas, das calcadas, daquele ceu azul, do calor nas ruas, da liberdade. O corpo parece que se move em ritmo, não existe barreiras. Quando falo com as pessoas, a linguagem vem do meu coração direto para minha boca. Não preciso pensar. Somente falar. Somente deixar aquela onda magnética me invadir.

Abraço as ruas com meus olhos, enlaço todo aquele verde em minha alma.
A agonia de dentro de mim saber que meu mundo repartiu, e que nunca mais serei a mesma.

Mas voce meu Brasil, sempre vai me emocionar. No futebol, ou no Carnaval. Ou nas lan houses,  nas comidas de quilo, nos shoppings centers cheios de vida. Nas calcadas, dentro dos onibus tomando o cafezinho mais gostoso do mundo, provando a vida em cada esquina.
No olhar, no sorriso. No abraço.


Sorria, você esta sendo filmado! Voce está no
BRASIL!

Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 22/11/2021
Reeditado em 22/11/2021
Código do texto: T7391633
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