SÓ MAIS UM POUCO
Meu Deus...um instante... só um mais um pouco, por favor.
A chuva da tarde cai. Mas isso não é problema
Molha um solo encharcado que faz a relva brilhar mais ainda, o igapó coberto por uma vegetação onde os tamuatás se alimentam.
Os açaizeiros ilustram o cenário com o seus cachos que podem ser colhidos sem nenhuma dificuldade, pois se tratam de uma espécie que não cresce muito; assim também é mangueira que em outros tempos não dava fruto e graças a simpatia da D. Ana, em três sextas-feiras jogou uns punhados de farinha, repetindo a seguinte frase: "mais frutos do que farinha, mais frutos, mais frutos do que farinha". Hoje a árvore frondosa, além de nos acobertar em acolhedora sombra, também nos cede o seu sabor.
O Rio que corre ao fundo do terreno, com a chuva torrencial, também encantado por aquele igapó, desvia o seu leito para transborda-se e assim nutrir aquele recanto de peixes felizes que de tempo em tempo vem a tona para responder com seus respiros, um a um, a lista de presença.
Nesse local, repleto de tanta magia e beleza, dizem também que há uma sucuri invejosa que vigia sorrateiramente os passos daqueles incautos e dessa forma, mostrando-se efetivamente como é, traçou a Doralice, a pata selvagem que sobrevoava aquelas paragens, e por se sentir tão íntima do recinto, não se deixou perceber o perigo eminente e acabou por se servir de refeição praquela peçonhenta.
A Jaçanã, outra frequente hóspede, desfila por cima da manta de plantas aquáticas, saboreando os acepipes do banquete exposto à céu aberto. A garça esguia, se esquiva por trás do mato verde, pra num bote certo, botar pra dentro mais um girino saboroso.
Sabe aquela chuva que nos afugentou pra dentro de casa? Pois bem, em menos de uma hora se foi; como costumamos dizer, era tão somente uma nuvem que se arrastou toda alvissareira praquele canto, e também de tão emocionada, se derreteu toda sobre nós, fazendo questão de participar desse momento.
Em meio a esse ambiente de paz , de acolhimento, o espectador distraído e cético, pode até querer insistir em suas crenças e descrenças ,quando resolve encrencar consigo e com Deus ao afirmar que não crer na existência do inferno nem do céu, mas ainda atrapalhado com as águas que vieram de cima, que entorpeceram seus olhos, fica pasmado quando não mais que de repente se depara com a imagem em ação dos seres invisíveis que lhes sorriem e lhe acenam com a seguinte mensagem: Acredite... só mais um pouco.
PEDRO FERREIRA SANTOS - PETRUS
22/11/21 Num sítio em Belém do Pará.