B. LOPES
UM SIMBOLISTA FLUMINENSE?
Nelson Marzullo Tangerini
Foi o escritor e jornalista Tom Farias quem primeiro me falou da poesia de B. Lopes.
Quando tentávamos impedir a demolição da casa onde morou o poeta Cruz e Sousa, no Encantado, subúrbio do Rio de Janeiro, caminhamos pelas calçadas da Rua Paraná, entre Piedade e Água Santa, à procura da casa onde teria morado o poeta fluminense.
Em 1880, o poeta catarinense Cruz e Sousa, também conhecido como “Dante Negro”, chegou ao Rio de Janeiro, onde formaria o primeiro grupo simbolista, ao lado de Lopes, Emiliano Perneta, Oscar Rosas e Gonzaga Duque. A partir desse encontro, nosso poeta publica Brasões (1895) e Val de Lírios (1900).
Bernardino da Costa Lopes, afrodescendente, era conhecido nas rodas boêmias e literárias como B. Lopes. “Filho de pais livres e membros da classe média pobre, Antônio, escrivão, e Mariana, costureira”, o poeta nasceu na Freguesia da Boa Esperança, hoje distrito de Rio Bonito, em 1º de maio de 1859, antes, portanto, da abolição da escravatura.
O escritor Antônio Miranda, fonte desta pesquisa, considera que “o poeta não foi propriamente um simbolista, mas parnasiano, embora tenha ganhado notoriedade como integrante da vanguarda simbolista”, tese também sustentada pelo professor e escritor Luiz Antônio Barros, autor do livro “Viagem literária através do Estado do Rio”, publicado pela Editora Nitpress, Niterói, RJ, 2010.
À sua cidade natal, B. Lopes escreveu o singelo soneto decassílabo “Berço”, com as rimas alternadas ABAB - ABAB - AAB - AAB - à moda parnasiana:
“Recordo um largo verde e uma igrejinha,
Um sino, um rio, um pontilhão, e um carro
De três juntas bovinas, que ia e vinha
Rinchando alegre, carregando barro.
Havia a escola, que era azul e tinha
Um mestre mau, de assustador pigarro
(Meu Deus! que é isto, que emoção a minha
Quando estas coisas tão singelas narro?).
Seu Alexandre, um bom velhinho rico
Que hospedara a Princesa; o tico-tico
Que me acordava de manhã, e a serra
Com seu nome de amor Boa Esperança,
Eis tudo quanto guardo na lembrança
Da minha pobre e pequenina terra!”
Em 2009, participei, em Rio Bonito, com um grupo de intelectuais niteroienses, liderados pelo livreiro Carlos Mônaco, dono da Livraria Ideal e idealizador do Calçadão da Cultura, à Rua Visconde de Itaboraí, de uma comemoração do sesquicentenário de nascimento de B. Lopes. E, desde então, passei a me aprofundar em sua poesia.
B. Lopes, poeta que publicou, anteriormente, o livro de sonetos “Cronos”, de formato parnasiano, veio a falecer de tuberculose, em 18 de setembro de 1916, no Rio de Janeiro, depois de uma existência dura e atribulada, pois desorganizou sua vida e arruinou seu casamento, uma vez que entregou-se ao álcool. Deixou, porém, para a posteridade, uma vasta obra com marcas simbolistas e parnasianas.
Antônio Miranda, já citado aqui, escreveu ainda, em seu site www.dia.furg.br/ecodosul/biobl.htm , que o poeta, lamentavelmente, “foi ridicularizado no fim da vida por conta de um soneto infeliz em louvor ao Marechal Hermes da Fonseca.
Ainda assim, B. Lopes enriquece, com sua poesia viva, a tão expressiva literatura fluminense, que deixou marcas tão profundas e significativas na literatura brasileira.