Mini crônica: A Sede
Aquela sede já estava incomodando . Há uma semana que ele bebia água sem parar. O médico lhe falara que os exames estavam normais. Tudo certo só que a sede não passava. Sentia também um calor exagerado, que nada dava jeito.
O ar condicionado queimara de tanto funcionar no controle máximo. A única solução que encontrara para se
ver livre do calor não era nada convencional e ele a guardava como um segredo de estado: dormir dentro de um tambor cheio de água, somente com a cabeça para fora. Se alguém soubesse, pensaria que estava louco — fato que até ele mesmo suspeitara por algum tempo, mas que se dissipara do seu pensamento.
Só pensava em beber água. À noite levantava várias vezes para beber água e consequentemente para ir ao banheiro. No trabalho , os colegas já estavam pegando no seu pé. Um dia resolveu beber uma cerveja — já que nunca havia bebido —, pois quem sabe não era isso. Bebeu uma, duas, três, quatro e depois não se lembra de mais nada. Só sabe que acordou com uma sede danada.
A mesma sede de antes. E era sede de água. De mais nada. Resolveu consultar , então , um psicólogo. Este lhe aconselhou fazer algumas sessões de terapia pois, a água era um símbolo universal de muitas coisas como a vida. Fez. Não adiantou nada. A sede não passava.
Um belo dia a sede misteriosamente sumiu, de vez. Ficou aliviado mas intrigado com tudo que se passara. Passado uns três dias lhe chegou uma carta . Era de sua mãe que morava no Ceará. Abriu e leu:
“Meu filho como vai você, tudo bom? Aqui todos vamos bem com a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo. Estou lhe escrevendo essas linhas para lhe contar que tivemos por aqui, nos meses que passaram, uma das piores secas que essa terra já viu. Alguns bichos morreram. A vaca malhada não resistiu, pois, já estava velha e cansada para suportar mais uma seca. Foi terrível mas agora já passou. Há três dias começou a chover sem parar. Estou esperando carta sua para saber como você está. Todos mandam abraços. Deus lhe abençoe .”