Antigos cemitérios de Campo Grande
O Dia de Finados é uma data especial. Simboliza valores, crenças e tradições que vão além das fronteiras culturais e religiosas que compõem o tecido mais amplo da sociedade. O significado profundo desse dia requer de nossa consciência a expressão de gestos de reverência à memória de todas as pessoas amadas que já faleceram. Além dos costumes usuais para homenagear os mortos é oportuno revisitar cenas da história local para conhecer os primeiros cemitérios de Campo Grande, da vila de outros tempos que se transformou na bela capital sul-mato-grossense da atualidade.
O primeiro cemitério do arraial, fundado nos idos de 1875, foi construído na parte superior do terreno onde hoje está a atual praça Ari Coelho, no coração da cidade. Naquele tempo, o centro do povoado localizava-se um pouco abaixo da referida praça, nas imediações da Igreja de Santo Antônio. Informações sobre esse pequeno cemitério estão no esboço histórico escrito pelo poeta Valério de Almeida, publicado em 1933 na revista Folha da Serra. Esse campo fúnebre foi usado por pouco mais de uma década, pois, além de ser muito pequeno, modestamente cercado de arame farpado, estava num local impróprio e muito próximo do núcleo urbano.
No final do ano de 1887, os líderes da comunidade resolveram então somar esforços para construir, com seus próprios recursos, um outro cemitério, mais amplo, dotado de uma pequena capela mortuária, devidamente murado e mais distante do núcleo urbano. O local escolhido foi nas imediações da atual confluência das avenidas Afonso Pena e Bandeirantes. Nos dizeres do autor: o novo cemitério foi localizado no “alto do espigão a oeste do povoado”. Foi nesse segundo cemitério que, no dia 8 de janeiro de 1900, foi sepultado o fundador do arraial, José Antônio Pereira.
Cerca de duas décadas depois do primeiro cemitério ter sido desativado, ou seja, até por volta de 1908, de acordo com o referido autor, como ele próprio testemunhou, em sua meninice, ainda persistiam sinais de antigos túmulos, na parte superior do então denominado Jardim Municipal. Ao lado de uma velha cruz de aroeira, os moradores tinham o costume de acender velas para as almas, no Dia de Finados. Num velho túmulo, cercado com gradis de ferro retorcido, repousavam os restos mortais do carpinteiro José Theodoro, falecido nos primeiros tempos do povoado.
O centenário Cemitério de Santo Antônio, localizado na quadra delimitada pelas avenidas Calógeras, Zahran e rua 13 de junho, ao contrário dos dois anteriores, ainda subsiste como monumento da cidade. Foi construído num terreno doado pelo fazendeiro Amando de Oliveira, presidente da câmara municipal, falecido no dia 10 de junho de 1914. Por ironia do destino, como ficou na memória local, o benemérito doador do terreno foi também o primeiro a ser sepultado no novo cemitério daquele tempo e que hoje se tonou num monumento secular da cidade. Desse modo, para abarcar todas as dimensões da história local faz-se necessário incluir esse capítulo de reverência aos mortos e aos espaços de sepultamento do passado e do nosso tempo.