Visita do Frei Mariano de Bagnaia
Este artigo destaca um evento ocorrido nos primórdios do povoado de Campo Grande, quase um século antes da já cidade tornar-se capital do Mato Grosso do Sul. Trata-se da visita pastoral realizada, no segundo semestre de 1882, pelo frei Mariano de Bagnaia, então vigário da paróquia de Corumbá, ao arraial fundado por José Antônio Pereira, apenas quatro anos após a construção e benção da Capela de Santo Antônio.
Natural da Província de Viterbo, Itália, o sacerdote chegou ao Brasil, em meados do século XIX, com 30 e poucos anos, para iniciar sua trajetória de missionário junto aos povos indígenas do Mato Grosso. Em 1865, quando começou a Guerra do Paraguai, o frei exercia o sacerdócio em Miranda, quando foi preso pelos paraguaios. Depois do conflito, assumiu a direção da paróquia de Corumbá, onde atuou por 17 anos. Nesse período, liderou a construção da majestosa Igreja de Nossa Senhora da Candelária, inaugurada em 1877, que hoje é um patrimônio histórico material sul-mato-grossense.
O jornal corumbaense “O Iniciador” noticiou que em 22 de agosto de 1882, o frei estava em Santa Rita de Levergéria (Nioaque), iniciando uma longa viagem pastoral pelo interior. Em seus sermões sempre costumava relembrar os momentos mais difíceis de sua vida, quando passou por privações e torturas praticadas pelos paraguaios, sendo levado preso, com o corpo coberto apenas por um tapete tirado da Igreja de Miranda.
O missionário sexagenário viajava em companhia de apenas um camarada. Depois de passar por São José de Herculânea (Coxim), visitou Campo Grande, onde pregou missões na Capela de Santo Antônio. Em suas cartas afirma ter sido muito bem recebido pela animada e ordeira comunidade local. Ao visitar algumas fazendas, pelo longo caminho, o religioso relatou ter ouvido depoimentos sobre os “terríveis ataques dos índios coroados”. Nesse sentido, pediu o empenho do bispo de Cuiabá para, se possível, nomear um vigário para a Capela de Santo Antônio, observando que o povoado já contava com mais de 400 moradores.
Quanto à desejada nomeação de um vigário, o frei assim se expressou: “Por esse meio, em pouco tempo, se formará uma florescente população e uma freguesia onde nascerá uma boa vila. Essa localidade, onde notei os mais belos elementos para a agricultura e criação de gado, oferece incalculáveis vantagens a quem ali se estabelecer e merece muita atenção do governo.” O missionário destacou ainda a fertilidade das terras existentes na bela região, dos seus verdes campos com pastagens nativas e seus atrativos diferenciado para a pecuária.
Quatro anos depois, em 1886, ocorreria outro evento marcante da história do culto católico local: a visita pastoral do bispo de Cuiabá, Dom Carlos Luís d’Amour. Assim, pelo consórcio de diferentes instituições sociais, o povoado romântico daqueles dias se tornou na bela e pujante capital sul-mato-grossense dos nossos dias.