LGB - UMA VIDA DE CINEMA
LGB - UMA VIDA DE CINEMA
Li ontem num jornal que Wagner Moura interessou-se em filmar a saga do "guerrilheiro" Marighella depois de ler sobre a vida do "subversivo". Para a Ditadura Militar TODOS eram subversivos (ou comunistas, o que vinha a ser a mesma coisa): jornalistas, professores de universidades, atores e atrizes, padres, poetas, músicos, escritores, qualquer um que criticasse o Regime. O negro Marighella -- "vendido" pela História como branco -- foi um deles, a mulher branca Olga Benário foi presa e deportada somente por ser esposa do confuso e indeciso revolucionário Luís Carlos Prestes. Mas tivemos um "rebelde com causa" nos primeiros dias do Século XX, que causou imenso furor com uma caneta (de pena metálica, na época, ou quem sabe pena de ganso) e cuja Poesia reverberava o sofrimento e a fome do povo e as mazelas e desonestidade dos governantes.
O estilo popular por excelência chamado CORDEL teria surgido na Espanha e, de lá, passado a Portugal, onde era vendido em páginas avulsas penduradas com pregador em fios, barbantes, cordéis... nas barracas das feiras. Diz uma amiga virtual, via Facebook, que ainda são muito presentes os cantadores e repentistas por lá, em pequenas cidades próximas a Lisboa. O cordelista raramente é cantador, muito menos repentista... o cordelista é um "anotador de versos", com igual inspiração mas se o dom, a capacidade do improviso. Há exceções, é claro...
O "Primeiro sem Segundo" teria produzido perto de 600 obras -- li isso em algum lugar -- mas na Wikipédia, nem sempre correta, citam ter escrito apenas (?!) 240 ! Entende-se... LEANDRO GOMES DE BARROS atuou boa parte da vida como "editor de si mesmo".. solução pra não levar prejuízo das "typographias" da época, que produziam e vendiam os cordéis e o autor não via "nem sombra" do lucro que tinham. Vai daí, LGB comprou uma rotativa usada (tinha um enorme cilindro, que "batizou" o maquinário) e passou "a RODAR" seus trabalhos, fato inédito na história do Cordel. Supõe-se que teria criado êle mesmo as capas com desenho -- as xilogravuras -- e encadernava, grampeava ou colava (como era comum), divulgava E VENDIA seus cordéis nas Feiras da cada lugarejo... e ainda escrevia, praticamente 1 Cordel por quinzena.
Nenhum assunto era proibido, tema algum sofria censura e descrevia em versos famosos Romances de outros países, "adaptando-os" ao Sertão. O tema das Cruzadas, de príncipes e reis foram alguns dos motivos ! Descobriu-se -- depois de falecido -- que editoras antigas continuavam a publicá-lo... um, mais audacioso, dono das "chapas" (de zinco ou chumbo, com o texto) foi além: substituiu o nome do poeta glorioso pelo sem, modesto. (*1)
As descrições de Leandro Gomes de Barros da "seca de 1971" (morreria no ano seguinte), dos costumes do povo dos dramas e dificuldades de cada família e da insensibilidade dos poderosos são uma LIÇÃO de Brasil atual, pois o país parece não ter nem um pouco. Num dos Cordéis mais divertidos, o Brasil é UM JUMENTO no qual São Paulo pula no pescoço, o Rio monta no meio e Minas segue na anca... se o Nordeste fôr montar, o pobre burro desanca ! E sobra "pau" pros políticos , todos êles... isso desde 1880 "e lá vai fumaça" ! Leiam LEANDRO... vale a pena !
"NATO" AZEVEDO (em 15/nov. 2021, 19,30hs)
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OBS: (*1) - abaixo, trechos do excelente livreto "BREVE HISTÓRIA DA LITERATURA DE CORDEL", de MARCO HAURÉLIO, edit. Claridade, SP, 2010. Em prefácio de Aderaldo Luciano lemos que... "A poesia rimada nordestina encontrava na capital pernambucana as então modernas máquinas de impressão tipográfica, prelos europeus. Daí para a composição dos folhetos e sua comercialização bastou o gênio de Leandro, o primeiro poeta-editor do Brasil. Escreveu, imprimiu e comercializou suas próprias obras. E viveu exclusivamente dessa prática, passando para a História como pai do Cordel brasileiro". (pag. 7)
"O Cordel é um dos galhos da árvore da Poesia popular, como o repente também é". Leandro, nascido no sítio Melancia, em Pombal (PB) em 19 de novembro de 1865, se mudaria para Pernambuco aos 15 anos, iniciando pouco depois sua carreira como poeta e, adiante, editor. Diz o livreto, na pag. 21: "Nenhum poeta brasileiro o superou em número de leitores. Paradoxalmente, seu nome é pouco conhecido". E traz a explicação... com sua morte em março de 1918, sua viúva "vendeu os direitos de publicação de boa parte de sua obra" (pag. 21) para um cordelista em 1921. Embora isso tenha colaborado para divulgar as poesias de Leandro nacionalmente, o tal editor... "passou a assumir a autoria dos folhetos de Cordel de sua propriedade, assinando todos os títulos adquiridos em seu nome. Leandro, depois de morto, foi a maior vítima desta prática condenável". (pag. 22)
Segundo o livreto, quando o Cordel em folhetos estava se espraiando pelo Nordeste "viviam na região do Teixeira (na Paraíba) afamados cantadores. (...) Alguns grandes repentistas, desde o início, enveredaram pelas sendas do cordelismo", etc.
Ilude-se quem ache o repentista (ou cordelista) um "matuto" que mal sabe falar Português... eram todos muito letrados, liam bastante, interessavam-se por todos os assuntos, temas, romances épicos, História geral, Cinema, fatos políticos, Bíblia, grandes personagens mundiais, etc. Em suma, "bibliotecas ambulantes", repórteres de seu tempo, testemunhas E REGISTRADORES do Passado e da História. Na Fundação Casa de Ruy Barbosa há imenso acervo de cordelistas que engrandeceram esta Arte ! Consultem-na urgente !
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Encontrei 496 CORDÉIS sob a rubrica "Leandro Gomes de Barros" e 608 NO TOTAL !
http://acervos.casaruibarbosa.gov.br/