O Museu da Língua
Cheguei de São Paulo, onde estive durante doze garoentos dias. Na bagagem, trouxe alguns assuntos que, possivelmente, serão explorados em crônicas futuras.
Não posso, entretanto, deixar para amanhã, o que vi de mais divertido, na rápida visita que fiz à capital bandeirante.
Garanto, que tem gente achando que foi um novo Shopping ou um novo aeroporto.
E por falar em aeroporto, abro aqui um parêntese para dizer, que decolei em Guarulhos, com o coração querendo sair pela goela! A cada turbulência, me lembrava que, nos últimos tempos, a capital paulista vem servindo de palco para dolorosas tragédias aéreas.
Depois do Boeing da TAM, vôo 3054, que ultrapassando os limites da pista de Congonhas matou muita gente, um Learjet, segundos após decolar do Campo de Marte, caiu sobre uma humilde casa da zona norte da cidade, esmagando oito pessoas.
O Learjet caiu, dias antes de meu retorno a Salvador.
Só descansei, quando o meu alinhadíssimo GOL deixou o enfarruscado céu de São Paulo. Fecho o parêntese.
Como dizia, já tem gente achando que o que vi de mais divertido em Sampa foi um novo Shopping ou um novo aeroporto.
Isso porque, costuma-se dizer, que o divertimento do paulistano é o aeroporto de Congonhas, ou seus magníficos Shoppings.
Não é verdade. Além de uma infinidade de excelentes restaurantes e de bons clubes sociais, a programação cultural de São Paulo é de fazer inveja.
As salas de espetáculos da capital paulista estão sempre cheias. O "Vamos ao teatro", convite repetido milhares de vezes pelo saudoso Paulo Autran, é prontamente atendido pelo paulistano.
Aos paulistas da capital falta uma nesgazinha de praia. É verdade. Quando desejam tomar um banho de mar, se põem a caminho do Litoral Norte ou do Litoral Sul. Enfrentam um tráfego dos pecados.
E, muita vez, chegam à beira do mar, debaixo de violento temporal. E logo, por assustadores relâmpagos e ensurdecedores trovões são convidados a retornarem aos seus apartamentos, alguns pendurados no décimo andar de um espigão qualquer.
Mas o paulistano não está nem aí. Vi isso, agora, quando me arrisquei a tomar um banho no Porto do Una, junto à famosa praia de Juquey, onde meu filho Adriano tem uma confortável casa de veraneio.
Não deu praia, como se diz aqui em Salvador. Um solzinho anêmico, encabulado, apareceu, só para não me deixar perder a longa viagem.
Dizia acima, que o divertimento do paulistano, ao contrário do que jocosamente se alardeia, não se restringe a Shoppings e aeroportos.
À sua disposição, ele tem, também - e aqui vai o que de mais divertido, desta vez, eu vi em Sampa - o Museu da Língua Portuguesa. Com Ivone visitei-o, sem me preocupar com o relógio.
O Museu fica na Estação da Luz, o imponente prédio do bairro da Luz, construído no século 19, e de belas histórias envolvendo os imigrantes e os ricos tempos do café.
Também chamado de Estação da Luz da Nossa Língua, o museu foi inaugurado em março de 2006, ao som de Asa Branca e do fado Foi Deus.
Em síntese, o seu principal objetivo é este: "Oferecer ao público em geral um conjunto de informações audiovisuais de caráter histórico, social e cultural sobre a língua portuguesa em suas várias dimensões".
Para atingir essa finalidade, ele oferece espaços onde são recitados versos de Drummond, Fernando Pessoa, Gregório de Matos; e lidos pequenos e escolhidos textos de Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, Machado de Assis e de Mario de Andrade.
Ouve-se ainda boa música popular brasileira, e a história de seus compositores e interpretes.
Os narradores são de primeira linha: Maria Betânia, Paulo José, Juca de Oliveira, Chico Buarque e Zélia Ducan, entre outros.
Pelas paredes do museu estão gravados curiosos e interessantes textos de vários autores. Demorei-me naquele em que Graciliano Ramos conta como foi a morte de sua cachorrinha Baleia.
Deixei o Museu da Língua chateado. Perdera a exposição temporária intitulada "Clarisse Lispector - A hora da estrela", encerrada no final de setembro.
Para fugir da frustração, dei uma passadinha na Pinacoteca.
Ela fica ao lado do museu. Basta atravessar a rua. É outro espetáculo, graças ao trabalho nele realizado pelo artista plástico baiano Emanuel Araújo.
Se os governantes deste país cuidassem de criar, nos seus Estados, museus semelhantes ao da Língua Portuguesa de São Paulo, estariam, não tenho dúvidas, desobrigados de construírem novos presídios.
As armas que os jovens carregam na cinturta seriam substituídas por livros e canetas.
Mas há governadores soltos por aí que nem sabem da existência desse belo Museu.
Se o conhecessem, de perto, errariam menos na hora de escrever e falar. O que, aliás, não é nenhuma novidade nos palácios oficiais, neste momento da vida republicana brasileira...
Cheguei de São Paulo, onde estive durante doze garoentos dias. Na bagagem, trouxe alguns assuntos que, possivelmente, serão explorados em crônicas futuras.
Não posso, entretanto, deixar para amanhã, o que vi de mais divertido, na rápida visita que fiz à capital bandeirante.
Garanto, que tem gente achando que foi um novo Shopping ou um novo aeroporto.
E por falar em aeroporto, abro aqui um parêntese para dizer, que decolei em Guarulhos, com o coração querendo sair pela goela! A cada turbulência, me lembrava que, nos últimos tempos, a capital paulista vem servindo de palco para dolorosas tragédias aéreas.
Depois do Boeing da TAM, vôo 3054, que ultrapassando os limites da pista de Congonhas matou muita gente, um Learjet, segundos após decolar do Campo de Marte, caiu sobre uma humilde casa da zona norte da cidade, esmagando oito pessoas.
O Learjet caiu, dias antes de meu retorno a Salvador.
Só descansei, quando o meu alinhadíssimo GOL deixou o enfarruscado céu de São Paulo. Fecho o parêntese.
Como dizia, já tem gente achando que o que vi de mais divertido em Sampa foi um novo Shopping ou um novo aeroporto.
Isso porque, costuma-se dizer, que o divertimento do paulistano é o aeroporto de Congonhas, ou seus magníficos Shoppings.
Não é verdade. Além de uma infinidade de excelentes restaurantes e de bons clubes sociais, a programação cultural de São Paulo é de fazer inveja.
As salas de espetáculos da capital paulista estão sempre cheias. O "Vamos ao teatro", convite repetido milhares de vezes pelo saudoso Paulo Autran, é prontamente atendido pelo paulistano.
Aos paulistas da capital falta uma nesgazinha de praia. É verdade. Quando desejam tomar um banho de mar, se põem a caminho do Litoral Norte ou do Litoral Sul. Enfrentam um tráfego dos pecados.
E, muita vez, chegam à beira do mar, debaixo de violento temporal. E logo, por assustadores relâmpagos e ensurdecedores trovões são convidados a retornarem aos seus apartamentos, alguns pendurados no décimo andar de um espigão qualquer.
Mas o paulistano não está nem aí. Vi isso, agora, quando me arrisquei a tomar um banho no Porto do Una, junto à famosa praia de Juquey, onde meu filho Adriano tem uma confortável casa de veraneio.
Não deu praia, como se diz aqui em Salvador. Um solzinho anêmico, encabulado, apareceu, só para não me deixar perder a longa viagem.
Dizia acima, que o divertimento do paulistano, ao contrário do que jocosamente se alardeia, não se restringe a Shoppings e aeroportos.
À sua disposição, ele tem, também - e aqui vai o que de mais divertido, desta vez, eu vi em Sampa - o Museu da Língua Portuguesa. Com Ivone visitei-o, sem me preocupar com o relógio.
O Museu fica na Estação da Luz, o imponente prédio do bairro da Luz, construído no século 19, e de belas histórias envolvendo os imigrantes e os ricos tempos do café.
Também chamado de Estação da Luz da Nossa Língua, o museu foi inaugurado em março de 2006, ao som de Asa Branca e do fado Foi Deus.
Em síntese, o seu principal objetivo é este: "Oferecer ao público em geral um conjunto de informações audiovisuais de caráter histórico, social e cultural sobre a língua portuguesa em suas várias dimensões".
Para atingir essa finalidade, ele oferece espaços onde são recitados versos de Drummond, Fernando Pessoa, Gregório de Matos; e lidos pequenos e escolhidos textos de Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, Machado de Assis e de Mario de Andrade.
Ouve-se ainda boa música popular brasileira, e a história de seus compositores e interpretes.
Os narradores são de primeira linha: Maria Betânia, Paulo José, Juca de Oliveira, Chico Buarque e Zélia Ducan, entre outros.
Pelas paredes do museu estão gravados curiosos e interessantes textos de vários autores. Demorei-me naquele em que Graciliano Ramos conta como foi a morte de sua cachorrinha Baleia.
Deixei o Museu da Língua chateado. Perdera a exposição temporária intitulada "Clarisse Lispector - A hora da estrela", encerrada no final de setembro.
Para fugir da frustração, dei uma passadinha na Pinacoteca.
Ela fica ao lado do museu. Basta atravessar a rua. É outro espetáculo, graças ao trabalho nele realizado pelo artista plástico baiano Emanuel Araújo.
Se os governantes deste país cuidassem de criar, nos seus Estados, museus semelhantes ao da Língua Portuguesa de São Paulo, estariam, não tenho dúvidas, desobrigados de construírem novos presídios.
As armas que os jovens carregam na cinturta seriam substituídas por livros e canetas.
Mas há governadores soltos por aí que nem sabem da existência desse belo Museu.
Se o conhecessem, de perto, errariam menos na hora de escrever e falar. O que, aliás, não é nenhuma novidade nos palácios oficiais, neste momento da vida republicana brasileira...