Cenas - BVIW

Quantos filmes cabem em uma vida?

Na minha adolescência, final dos anos 1950, início dos1960, cinema era o entretenimento mais popular. Em São Paulo, cidade onde nasci e cresci, havia muitas salas, seja no Centro das] cidade, seja nos bairros.

Muitas vezes, aos domingos à tarde, eu ia ao cinema, fosse com minha mãe ou com amigas. E algumas dessas matinês me ficaram na memória.

Lembro-me que no filme “Trapézio”, minha mãe torcia pelo personagem vivido por Burt Lancaster, e eu pelo vivido por Tony Curtis. Ambos disputavam o amor da belíssima Gina Lollobrigida, ou melhor, de quem ela representava. Acho que quem ganhou foi mamãe!

Quando chegou ao Brasil a superprodução épica hollywwodiana, “Os Dez Mandamentos”, foi uma loucura. Mamãe e eu fomos ao cine Ipiranga, e ficamos horas numa fila que dobrava a ainda não famosa esquina da Ipiranga com a São João. Mas valeu o sacrifício e as dores nos pés!

Numa das poucas vezes em que fui ao cinema com papai, numa sala do bairro, sentaram-se na fileira atrás da nossa, duas senhoras tagarelas. Eu não pude deixar de ouvir o comentário maldoso: “Que vergonha, um homem velho com uma mocinha!” Os cabelos de meu pai embranqueceram muito cedo e, vendo-o de costas, realmente parecia mais velho do que era. Mamãe dizia que eu era muito “respondona” e, para fazer jus à fama, virei-me para trás e disse: “Ele é meu pai, viu, sua linguaruda!’. Respondona, mas defensora do pai!

Cenas de um passado distante, que aos poucos vão sendo editadas para a montagem do filme de nossas vidas...

Lu Narbot

Tema: Foi um filme que passou em minha vida