Minha terra , nossas gentes. Incríveis registros históricos.
Uma cidade pequenina mas cheia de história e vida num lindo oásis ao sul de Angola no deserto do Namibe. Quanto das nossas lembranças ( principalmente os lá nascidos ), continuam gravadas nas encostas das falésias de sua marginal!...Foi ali naquelas “Furnas” , buracos construídos na areia, que as crianças da minha terra passaram seus momentos mais divertidos das brincadeiras da infância . Baixavam a cabeça e passavam por aquela fenda estreita que ficava a muitos metros do fundo e ali brincavam por horas escondidos em meio à empolgante “ cowboiada” entre lagartos, camaleões e cobras da areia que ali se refugiavam para se protegerem do sol escaldante.
Na verdade, na cidade de Moçâmedes existiam “Furnas” em dois locais: as que ficavam perto do campo de aviação onde depois foi construído o novo estádio de futebol e às quais já aqui me referi e também ponto de encontro das crianças, e as “Furnas” da Torres do Tombo “Grutas da Ponta do Pau Sul”; estas, com inscrições gravadas em suas paredes a fazer um notável histórico cultural primitivo , serviram de abrigo a mareantes e corsários tão quanto foram habitações dos primeiros colonos . Todas estas inscrições até hoje documentadas, registradas e guardadas na secular Torre do Tombo frente aos Jerônimos às margens do rio Tejo, deram o nome a este bairro da cidade- Bairro da Torre do Tombo.
Estas grutas receberam os primeiros colonos que chegaram àquela costa vindos de Pernambuco /Brasil na barca “Tentativa Feliz “em 1849, quanto mais tarde receberam pioneiros algarvios que ali ancoravam em barcos à vela e caíques idos de Olhão, Algarve, Portugal. Apesar de se começar a construir barracões para servirem de alojamento a quem chegasse àquela costa eram insuficientes e as “Furnas” ainda continuaram a ser usadas no ano seguinte como habitação.
Não só estes registros fantásticos existem em Moçâmedes. Há inscrições rupestres idênticas às do Egipto no deserto , morro do Tchitundulo, feitas por povos hereros(os mucubais), sobre pastorícia e vidas familiares. Inclusive, nesse morro o povo local dizia haver múmias : lá foram realmente encontrados vestígios de restos humanos e até de uma queixada humana segundo depoimento de uma amiga da minha terra que a teve em mãos.
Se estes povos, os hereros, originários da Somália desceram o Continente africano até à África Austral, por quê questionar se saberiam, ou não, sobre técnicas de embalsamento como os egípcios antigos ?
Sabemos que houve pesquisas e estudos sobre esta parte da história de Moçâmedes mas infelizmente , e sem se saber as reais razões, abandonados e neutralizados pela Metrópole.
Um dos grupo de pesquisadores teve como parceria o Instituto do Café de Angola segundo depoimento de uma moçamedense que lá trabalhou no ano de 1972.
Esta é a minha terra. Quanta história, quanta vida e quanta saudade !
Lana
Ps: A exemplo de outras crônicas minhas com igual temática, sei que pouco se poderão interessar sobre o assunto pois são registros de outras vidas outro continente, mas pessoalmente acho importante tudo que agrega conhecimento e cultura