“PARA QUE TENHAM VIDA”
“E a vida, e a vida o que é? Diga lá, meu irmão!”
(Gonzaguinha)
Claudio Chaves
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SE para o poeta [Gonzaguinha] é difícil definir “VIDA” – como o tem sido para o biólogo, o filósofo, o sociólogo, o professor, o agricultor, o pescador... –, imagine “vida em abundância”, como declarou certa vez o Cristo ser sua missão!
O QUE seria viver em abundância?
– “O SENHOR vai chupar essas laranjas murchas?”, perguntou a criança ao seu pai, que havia acabado de comprar as frutas de um senhor acompanhado de outra criança, que as vendia à beira da estrada.
– “NÃO, filho”, respondeu o pai. “Não foi para nós comermos que eu comprei as laranjas. Eu as comprei para que eles possam comer”, explicou, tentando ensinar ao filho a prática da empatia.
EMBORA com bastante desconforto, confesso uma rotina recente que ainda me surpreende: não raramente, ao sair de casa, tenho a sensação de que não estou completamente vestido; aí me dou conta de que estou sem máscara de proteção contra o coronavírus; outras vezes, me pego usando-a dentro de casa bom tempo depois de ter chegado da rua.
ESSA confissão é pra dizer que, apesar de minha dificuldade “natural” de usar acessórios – nunca usei nem aliança de casamento, há não ser na hora da cerimônia –, me habituei tão rápido e espontaneamente ao uso da máscara que, de fato, me surpreendo.
SINCERAMENTE não sei explicar como alguém tão avesso a uso de assessórios se adapta tão facilmente a um “adereço” alvo de tanta polêmica e até da imprecação de muitos. Mas o fato é que está acontecendo.
DESDE o começo da pandemia, sempre que julguei oportuno, solicitei a quem eu posso alcançar com minhas observações que se esforce para cooperar com a Ciência e com os cientistas, e que não os tratemos como, por exemplo, inimigos da fé ou da religião.
QUEM, honestamente, acredita em teses como a de que os esforços desses pesquisadores fazem parte de uma grande conspiração mundialmente orquestrada para exterminar determinadas classes de pessoas, derrubar certas lideranças governamentais ou implantar certas ideologias políticas e culturais, tem o meu respeito – somos livres [ou nem tanto!] para “decidir” o que crermos.
ENTRETANTO, respeitosamente, peço licença para, mais uma vez, reiterar o meu apelo: NÃO SE TRATA (o uso da máscara) DE UMA MEDIDA APENAS SANITÁRIA (o que já seria muita coisa). Mais do que um protocolo sanitário, o uso da máscara, enquanto não houver a segurança necessária (atestada pelas pessoas e órgãos competentes) É UM SÍMBOLO.
100% de minha família estamos com o ciclo vacinal completo. Até onde é do meu conhecimento, não fomos infectados nem estamos nos grupos de maior risco. Continuo me esforçando para cumprir os protocolos, no entanto, porque quero acreditar ter entendido um pouco que o objetivo não é apenas garantir vida, mas “vida em abundância”, como desejara o Mestre.
NA MINHA modesta (e falha) perspectiva humanista, nesse contexto, “vida em abundância” significaria algo como “eu estou bem, mas isso não basta”, ou “não é a coisa mais cômoda do mundo, mas por trás do desconforto tem um gesto, ou vários”; ou ainda “pra mim, é apenas um pedaço de tecido que me incomoda, mas para milhares – incluindo amigos muito próximos – pode ser a mensagem do tipo: ‘eu entendo seu medo’, ‘me solidarizo com você’ ou ‘eu respeito sua dor’”.
EM SÍNTESE, se você não encontra nenhum motivo sanitário para continuar respeitando os protocolos de segurança contra a covid-19, especialmente o uso de máscara (em ambientes fechados e com público), procure no campo da ética – especialmente se você é cristão. Asseguro-lhe que encontrará vários!
NÃO basta, segundo o Grande Mestre da Galieia, que vivamos. É preciso vivermos em abundância!