Belas visões, a minha e a da banhista

Absorta, entregue inteiramente ao pensamento e, talvez, às lembranças que somente Deus sabe quais são, ela olha – parece mesmo que, mais do que isso, contempla – a imensidão no horizonte à sua frente, na ilusão de óptica que lhe mostra, falsamente, a fusão das águas azuladas do rio com as cinzentas nuvens do céu. Bela paisagem real, não imaginária, como belíssima é a visão que desperta, tão realmente bela quanto parcialmente ilusória: o céu não se funde ao longe com o rio.

 

É uma linda mulher, a contemplar o rio e o céu, já no findar do dia, quando o Sol, que se vai (desaparecendo rapidamente, segundo a segundo), banha as águas, como se fora um amante apaixonado, enquanto elas, alheias a ele, correm sem parar e assim se vão, sabe-se lá para aonde. De costas – ela, a mulher contemplativa –, evidentemente não me vê, mas eu a vejo, enquanto tento adivinhar seus pensamentos e suas lembranças, não obstante isso me seja impossível.

 

Que belíssimas visões, a minha e a dela, que parece estar em quase êxtase, embora isso possa ser mera ilusão minha. Ela está contemplando as águas? Ou o Sol, que parece também contemplar a beleza dela? Em que estará ela a pensar? Quais são suas lembranças? Estaria alegre agora, ou, ao contrário disso, muito triste, como me parece? Quais são suas dores, medos e frustrações? Ela os tem? Claro. É certo que sim, como todos nós, os mortais. É a vida, que é bela, conquanto inegavelmente também seja sofrida!

 

Vejo-lhe apenas a parte superior do vestido. Azul e de alças lindamente finas, que lhe deixam as espáduas belamente nuas, em riquíssima combinação com as coisas ao derredor: a madeira do parapeito da orla, os galhos, ramas e folhas das plantas e, à sua direita, como que propositadamente posta ali pela natureza, uma flor vermelha e grande, pendurada na rama da planta cujo nome desconheço, acariciada pelo vento e lindamente a balançar, um pouco acima, mas quase a lhe tocar o lindo rosto de cabocla, sob o testemunho do Sol, que, na minha visão ao longe, coincide quase inteiramente com o rosto dela.

 

Não, não a vejo de fato. É apenas a foto de uma amiga que, dentre as centenas de belas e felizes banhistas, esteve ontem, domingo, na Ilha do Mosqueiro, em elegante fuga da agitação cotidiana de Belém, fugere urbem. Era – percebi logo – a incumbência que me dava a natureza, pródiga como sempre, de pôr no papel ou, melhor dizendo, na tela do computador e logo despachar mundo virtual afora mais uma insignificância literária. Despertei. E vi que fora apenas um sonho, belo sonho. Brincadeira, claro: não foi sonho, foi realidade. Contemplava a linda foto da amiga, que me fora enviada pelo WhatsAppEra realidade, sim. E eu estava acordado.