ELA

É a segunda vez que a vejo, ela nem perde tempo em me ver e nem em ver que a vejo. Essa mulher tem consciência de que todos os olhares se voltam quando ela passa. E os motivos? Esses são insondáveis e até difíceis de serem compreendidos. Mas, e por quê? Porquês não vão deslindar a questão, esqueça você que me lê.

“De repente, não mais que de repente”, como o disse Vinícius, o poetinha, ela surge andando em frente a mim. Queiramos ou não, ela atrai a atenção. Caminha ereta e bela, larga das ilhargas, cintura fina, pernas grossas e bem torneadas, cabelos longos atados na nuca e balançando de norte a sul numa cadência de uma música desconhecida. A cintura de uma perfeição tal que causa inveja a gente quadrada como eu. Falei das coxas? Roliças e fazendo ondas no vestido como se dançassem uma valsa. Mas, e só por isto todos a olham? Não, infelizmente não. Ou felizmente, sei lá. E linda assim, só os homens que a notam? Claro que não! Assim eu não a teria notado, e nem tantas que vi que a olhavam e até se voltavam como se quisessem acreditar que aquela mulher não seria um produto da imaginação humana.

O vestido dela é de um tecido flexível e não transparente, que acompanha as ondas do oceano do seu corpo de escultura grega. Ela me fez lembrar aquelas mulheres divas do cinema no passado, tipo Sophia Loren, Elizabeth Taylor, Ava Gardner, Rita Hayworth, Marylin Monroe e tantas mais.

E quanto aos sapatos? Por incrível que pareça, esse portento de mulher, que não sei de onde veio ou quem é, não usa saltos altos, ela nem precisa, é muito alta e parece andar de saltos Luís XV, enquanto enverga uma rasteirinha bem comum. É rasteirinha, mas não arrasta, parece pisar em nuvens.

Estou quase que finalizando o texto sem dizer o que mais chama a atenção dos transeuntes. Quer saber? Trata-se da bunda, sim, da bunda. A dela não tem como comparar, e nem com quem. A esta altura da vida, jamais vi algo tão redondamente perfeito em parte alguma, nem no cinema, nem nas ruas, nem nos concursos de beleza e nem na Internet.