CHUVA, FRIO, OS NOVOS IMORTAIS E A NOVA NOVELA
A semana passou, úmida e fria. Novembro, como um macaco de imitação, está copiando o irmão outubro. Resultado: atravesso sua primeira quinzena com blusa, capuz, guarda-chuva, jeans fedendo a cachorro molhado.
Enquanto a chuva lava janelas e os planos para o feriado, aqui e acolá já começaram a falar nas confraternizações de dezembro. Acho linda a empolgação com que, todo ano, as pessoas debatem onde será o evento, quanto custará, quem cantará, o que se comerá, se terá ou não amigo oculto... Linda e hipócrita empolgação. As mesmas pessoas que agora se preocupam com os festejos parecem se esquecer das brigas e fofocas, dos desaforos ditos e engolidos, dos arranca-rabos que protagonizaram, das invejas e maledicências que encenaram – e viram encenar - ao longo do ano. Bem, se nem um vírus mortífero como o corona deu jeito na humanidade, não será este texto placebo...
Falando em encenação, o teatro – por extensão, a cultura – está em festa. Festa linda e nada hipócrita: Fernanda Montenegro entrou para o panteão da ABL. Ela que já foi tantas (Dora, Bia Falcão, Charlô, Dona Jacutinga, Zazá, Vó Manoela, Gilda, Bete Gouveia, A Compadecida, Mercedes, Teresa) agora é imortal. Aplausos àquela a quem Clarice Lispector adjetivou de “excelente”.
Fernanda, contudo, não chega sozinha à Casa de Machado. Adentra o recinto em boa e sonora companhia: ao seu lado, também de fardão, vai Gilberto Gil. O Gil da Bahia, da Tropicália, da MPB, da Arte enfim, e merecidamente, imortaliza-se também. Gil é ritmo e poesia, acordes e notas, sons e silêncio. Ao versejar “marmelada de banana/ bananada de goiaba/goiabada de marmelo”, Gil deu cor, som e poesia à minha meninice; e, convenhamos, isso não é pouco, embora seja para poucos.
Neste novembro frio e molhado, bom é ficar em casa, ouvindo uma musiquinha, pois, como disse Clarice, “não viver com música é trair a condição humana que é cercada de música.” Friozinho pede também televisão. Felizmente, voltamos a ter novela inédita no horário das nove. Sinal que a normalidade está, timidamente, voltando apesar do desinteresse de uns tantos... A normalidade retorna e Lícia Manzo apresenta um novelão para ninguém botar defeito. Se seguir a receita usada em “A vida da gente” (uma das mais lindas novelas a que assisti), não perderei um capítulo. A escolha de Cauã Reymond para protagonizar a trama foi acertada: esse menino é grande. Enfim, “Um Lugar ao Sol” é tudo o que um noveleiro como eu precisa e quer nestes tempos ainda turbulentos.
Apesar da friagem atípica, saúdo o penúltimo mês do ano. Evoé também aos novos imortais. E, apesar de certas coisas que estão por aí, “amanhã há de ser outro dia”, como cantou Chico que, espero, se imortalize em breve.