Que barulho foi esse?

Como é gostoso viver nessa cidade que é Miguel Pereira. O clima é divino. Os pipilares diversos pelas árvores e pelos ares, dão-me a impressão de estar vivendo num paraíso. Ontem, entretanto, ao anoitecer, o som dos pássaros estava acompanhado de uma verdadeira sinfonia dos gemidos estridentes de cigarras um pouco diferente do que ocorre por toda a primavera, indicando também que o tempo irá esquentar. É assim, os machos emitem sons com intensa agitação, não só para atraírem as fêmeas, como também para espantarem os predadores, já que o som danifica os ouvidos das aves, obrigando-as a fugirem dali, o que não ocorre com as próprias cigarras, pois têm uma membrana no abdômen, chamada de tímpano que as protegem.Li que as fêmeas não emitem o som,porque não possuem a membrana vibrátil que funciona como caixa acústica. Fiquei, então, a imaginar se elas conheciam a tal felicidade já que, após porem seus ovos, no topo das árvores, morrem a seguir. Os filhotes caem, entram na terra e ali permanecem por até 17 anos. Já adultos, cavam túneis e sobem nas árvores para o acasalamento. A vida adulta é curtíssima. Fiquei algum tempo pensando na vida das cigarras, quando percebi que finalmente, o barulho do silêncio das matas havia chegado. As badaladas no relógio da sala informavam a hora, meia noite. De repente, um sibilar forte e demorado aconteceu. De repente, foi um tal de cricrilares, grugulejos, coaxados, grasnados e relinchos, intensos, por toda parte. Antonia, a gata, rosnou e uivou. Pepe e Diana, os cães da casa, não paravam de latir. E nós, por detrás das persianas das janelas, nada víamos ou não imaginávamos o que estaria por trás daquele alvoroço. Ninguém ousou sair no quintal pra ver a situação e por mais que eu procurasse nas câmeras, nada fora do normal. O alarme não tocou. Ninguém tentou entrar na casa. As coisas foram se acalmando, o silêncio da madrugada voltou e, apenas alguns latidos longínquos aconteciam. Cirilo,o galo, cantou quando o dia já amanhecia. Passamos a noite em claro, sem ao menos um cochilo. O que teria acontecido? Pela manhã, fui cuidar da criação, observando cada canto. Tudo em ordem mas... bem lá no fundo do quintal, próximo ao galinheiro, um buraco redondo, redondinho como um sol, com aproximadamente um metro de diâmetro e apenas, pasmem, apenas uns vinte centímetro de profundidade. No entorno, a grama murcha e amarelada, parecia queimada. No galinheiro, todas as galinhas amuadas, no cantinho, em silêncio, Maria Joaquina, Joana, Lili e Ava, sem nenhum cacarejo como é costume quando me veem chegando, com o milho. Pareciam que ainda sentiam algo por ali. O que houve afinal, só eles, os animais, saberiam. O segredo, quem sabe, algum dia, algum deles me confidencie, já que quando os encontro, diariamente, costumo conversar com cada um. Talvez Fred ou o Erick, os sapos, com certeza saberiam algo...Quem sabe o camaleão gigante, da Hera lateral da escada ou Nina, a cabra mais nova ou ainda de Madalena, nossa maritaca com DNA de papagaio. Prometo que conto pra vocês tudo o que me contarem.

Jandiel

Jandira Leite Titonel

jandiel
Enviado por jandiel em 14/11/2021
Reeditado em 08/01/2024
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