Antes era o Maikel. Todos os dias, invariavelmente, me ligavam perguntando pelo Maikel. Eu explicava que aqui em casa nunca teve, não tem nem nunca terá um Maikel. Mas eles não acreditavam. Era amanhecer o dia e lá vinha a primeira das muitas chamadas:
— Bom dia! Gostaria de falar com o Maikel! — Eu respirava fundo e dizia:
— Pela milésima vez, minha senhora — ou meu senhor — o Maikel não mora aqui!
Aquela foi uma época em que o Maikel, dia e noite, fez parte da minha vida. Tanto que eu já pensava: como será o Maikel? O que será que ele fez para ser tão procurado? Será que ganhou na loteria e não foi buscar o prêmio? Será que fez uma dívida gigante e sumiu sem deixar rastros? Mas nunca soube nada, nadinha sobre ele. Era só um ilustre desconhecido chamado Maikel. Um dia, não perguntaram mais. A caçada acabou. Não sei se o acharam, ou se foi dado como morto.
Depois de um tempo, agora é o Vicente. Esse também veio pra ficar! De manhã, de tarde, na hora da janta, de noite é a mesma história: Eu falo com o Vicente nesse número? O Vicente, por favor! Poderia falar com o Vicente? Eu digo que não, não poderia. E não é que eu não queira deixar. É porque realmente o Vicente não mora aqui!
Vicente, não sei quem é você, mas registro a queixa: Você deu meu número para esse povo, foi? E por que você não deu seu novo número, rapaz? Teria me poupado muito aborrecimento! Hoje eu disse ao povo, mais uma vez, que não o procurem mais aqui. Disseram que não vão mais me incomodar. Eu respirei aliviada. Ufa! Mas não faz 15 minutos, emergindo de uma doce música de fundo, uma vozinha de mel, acabou de me perguntar:
— O Vicente está?
E agora sou eu quem pergunto:
— Vicente, pelo amor de Deus, cadê você?