SALVOS PELO ICEBERG
Dois companheiros de longa data.
Faziam tudo juntos enquanto jovens.
Futebol, escola, saídas noturnas e quando enchiam a cara a amizade ficava ainda mais forte.
Voltavam abraçados para casa, eram vizinhos, cambaleantes e felizes como nunca, desviando dos postes e poças de água nas noites chuvosas de Bela Folhagem, pequena cidade no noroeste paulista.
Casaram com duas irmãs, Cibele e Cinara que também tinham uma relação bem mais do que fraterna.
Uma era confidente da outra, guardando cada palavra ouvida como se fosse o maior tesouro da Terra.
Acabaram morando em casas geminadas no centro da cidade.
Cada um foi tocando sua vida, Guiberto como alfaiate e Modesto como professor na única escola municipal da cidade.
Adoravam pescar.
Aquele 1912 seria bem especial. Depois de juntarem dinheiro por mais de 10 anos resolveram concretizar um grande sonho: fazer uma pescaria em alto-mar em pleno Atlântico Norte!
Suas esposas não se opuseram e até ajudaram no preparo das malas daqueles inseparáveis amigos.
Em 10 de abril, lá foram os dois para a França e, quatro dias depois, seguiram para alto-mar num pesqueiro alugado no porto francês de Cherbourg-Devillite.
Tudo corria da melhor forma com vários peixes já preenchendo a rede, quando o barco simplesmente trincou na metade, sem mais nem menos.
Em menos de 2 minutos a água já ocupava todo chão e não tiveram saída senão colocarem coletes salva-vidas.
Estavam em pleno oceano sem nenhuma terra firme por perto.
A única alternativa era nadar - mesmo sem saber para onde, mas lá não poderiam ficar.
Passados uns 20 minutos, já com o fôlego nas últimas, Modesto olha ao longe e vê um iceberg monumental.
Era a salvação. Poderiam subir nele e aguardar socorro, fazendo sinais para quem passasse por lá.
Mais algumas suadas braçadas e chegaram no iceberg, começando a escalada rumo ao ponto mais alto.
Então avistaram um imenso navio vindo em sua direção.
Deus ouviu suas preces! Poderiam voltar para os saudosos braços de Cibele e Cinara!
Foi quando Guiberto disse:
- Veja, Modesto, é ele mesmo, é o Titanic! Parece que viram a gente e estão vindo nos salvar!