Mais uma primavera
Sabe, eu tenho costume de sempre escrever um texto no meu aniversário. Costuma ser reflexivo, íntimo, sincero. Eu não sei quando comecei a escrever para mim mesma, mas o tenho feito ano após ano. Geralmente eu começo a escrever dias antes da data para no dia está pronto e eu só publicar. Todavia, esse ano eu não consegui fazer isso. Eu posso colocar a culpa na doença, mas não foi só isso. De uma forma geral eu tenho me sentido desanimada. Revisando o meu diário eu passei boa parte do ano numa letargia sem fim. Esse ano foi difícil, mas eu cresci muito – amadureci ainda mais que ano passado.
Eu recordo de ter escrito no texto do ano passado que 2020 havia sido complicado, mas eu havia amadurecido e descoberto quem era. Porém, 2021 veio ainda mais complicado (a pandemia piorou e eu fui acometida pela doença 22 dias antes de completar mais uma primavera) e eu percebi que quem eu sou é uma construção que vai levar muito tempo para ser concluída – eu ainda estou descobrindo partes de mim, algumas que gosto e outras que não gosto tanto assim.
Fazer aniversário traz uma sensação de renovação da mente e alma porque é a vida nos dando a oportunidade de desabrochar em uma nova estação e recomeçar (não dizemos que celebramos mais uma primavera? Então ...). Fazer aniversário é ter a chance de sorrir, abraçar, celebrar o dia com que amamos – uma pena que o meu dia será apenas com aqueles que mais amo, em casa, mas levo a gratidão por estar viva e bem.
Sabe no quero acreditar hoje, no meu dia: que essa é a idade certa para ser feliz. Se existe uma época para gente ser feliz, em que é possível sonhar e fazer planos e ter energia para realizá-los independentemente dos desafios e obstáculos, o momento para nos encantarmos com a vida e viver apaixonadamente é agora, a partir desse dia. Eu me permito ser feliz. Hoje é o dia dourado em que eu posso criar e recriar a vida a minha imagem e semelhança, sorrir e cantar, pular e dançar, vestir-me com a minha roupa favorita e entregar-me a vida, que apesar de tudo ainda é bela.
Essa idade que completo no dia de hoje, tão fugaz que pode escorrer das minhas frágeis mãos, é meu único desejo de aniversário que quero que se realize: o presente, que tem a duração de um instante e que contém a eternidade.
Por isso, vou celebrar a vida em vida. Será uma celebração simples e íntima e os únicos convidados serão eu e eu mesma. O oceano que habita em mim me mostra como o meu tempo aqui é finito, mas eu tenho a chance de fazer com que seja profundo, porque a única coisa que deixamos ao partir é o legado de bons sentimentos e amizades, algo que nunca se esvai.
É com essa força que eu descobri em mim que eu saúdo mais uma primavera.
Que os 26 anos sejam doces.