O RANGER DO MEU PORTÃO

De início, não me incomodava. Mas, passado algum tempo, foi me perturbando. Era um som choroso, desagradável. Arrumei, então, o lubrificante apropriado e coloquei-o nas dobradiças. E quem disse que adiantou? O portão continuava a ranger. Mais suave, contudo, ainda a ranger. Deste modo, permaneceu. Felizmente, aos poucos, voltei a me acostumar, aceitando aquele ruído até não mais o achar tão irritante. Talvez, por começar a considerá-lo útil, uma vez que ele anunciava quase sempre a chegada de algumas visitas, principalmente os amigos. E, como morava em companhia apenas da minha mãe, era aquele som que tranqüilizava-me, também, quando eu aguardava o seu retorno de algum lugar que tivera ido. Isso aconteceu por vários anos. (Estamos falando de uma época em que não havia ainda a telefonia móvel). Todavia, o tempo passou. Até quando uma ocasião atrás acabei perdendo, de forma inesperada, essa querida mãe e companheira. Jamais posso esquecer o ruído causado pelo portão naquele seu último dia. Foi, sem dúvida, o mais tristonho de todos.

Hoje, tudo é diferente. Os visitantes já não aparecem com freqüencia. Preferem telefonar. Fiquei sozinho com uma imensa tristeza. E ansioso na expectativa, como nunca, de ouvir a qualquer momento o barulho - que também mudou - deste meu portão. Agora, soa como se fôra uma sonora risada.