Das Minhas Lembranças 14

A Praça da Cemig, em Contagem era (ainda é) o palco de manifestações populares. O primeiro de maio, que antes acontecia na Praça dos Trabalhadores, migrou para lá, creio, à partir de 1980.

Na Av. Babita Camargos, quase no coração da Praça da Cemig, um grupo de militantes se reunia na sede da Pastoral Operária da Igreja Católica, para fazer a ponte entre a fé e a política. Nesse local, outro grupo, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) também atuava. Dos membros da CPT eu me lembro de Berzé e Durval Ângelo. Berzé, chargista que ilustrava as publicações da pastoral. Durval, tempos depois se elegeria Vereador de Contagem e em seguida Deputado Estadual pelo PT.

O outro grupo, menor, mas muito atuante, também criou seu veículo de comunicação, o boletim Ponte. Assim como o movimento sindical, o movimento popular também contribui muito na criação e sustentação do Partido dos Trabalhadores.

O Padre Carlos Pinto era um dos coordenadores da Pastoral e apoiava fortemente os movimentos populares do campo e da cidade. Vivíamos um momento de participação popular muito criativo e diversificado.

Do Ponte eu me lembro de Eliana Belo, José Prado, Márcio Nicolau e Maria Lúcia, a Milu. Em homenagem aos lutadores das causas sociais e este que foi e continua sendo palco de resistência contra a ordem opressora, a Praça da Cemig, escrevi, lá pelos idos de 1986, o poema:

A Praça

Há uma praça,

cujo nome é de um empresário bem sucedido.

Praças, avenidas e ruas

recebem nomes de pessoas bem sucedidas

(Bem sucedidas com as implicações decorrentes).

Os vencedores batizam suas conquistas

com o nome de seus heróis, naturalmente.

Há um praça:

A da Cemig

Que o povo teima em não chamá-la por seu nome de oficial:

Dr. Fulano de Tal.

O prefeito mandou modificá-la, colocou placas com letreiros,

mas o povo continua ignorando.

Fala-se em editar um decreto municipal,

ordenando prisão

a quem não chamá-la por seu nome principal...

Apesar do visual

tudo continua como antes:

Crianças pedindo esmolas

vendedores ambulantes

e o povo, para irritação das autoridades

continuam a chamá-la de Praça da Cemig.

Apesar do sanitário público

todos cagam e andam com júbilo,

inclusive os cães,

principalmente uma cadela manca,

que sem nenhum pudor ergue a pata traseira

e faz xixi na paineira.

A Praça da Cemig poderíamos chamá-la:

Praça dos Bancos

ou dos Desvalidos

Praça da EBCT

ou Dos Esquecidos

Praça do INAMPS

ou Dos Doentes

Praça do DNER

ou Dos Acidentes

Praça da Escola SESI

ou Dos Analfabetos

Praça da CI

da CBA

ou Dos Desempregados

Dos Desesperados

Praça das Batidas das RP's procurando armas

nas sacolas dos que vão para o trabalho

e encontrando marmitas...

Tantas siglas,

poucas soluções!

Sabiamente o povo decidiu:

Praça da CEMIG,

LUZ que buscamos para nós e nossos irmãos,

para os meninos que vagueiam batendo nos vidros dos carros

implorando trocados,

recebendo impropérios.

LUZ às missas do primeiro de maio

aos comícios da oposição

aos motoristas de taxi's

travestis

trailer's...

LUZ à Banca Wilma

para que traga notícias boas

LUZ à Praça da CEMIG,

que no futuro receberá outro nome,

dos heróis do povo,

da CPT ali pertinho,

plantando sementes que germinarão no negro asfalto da praça,

arrebentando e fazendo brotar a

LIBERDADE.

J Estanislau Filho