Eu sou ridícula
Numa quinta chuvosa bem paulistana e com uma obra que tenho quase certeza que meu apartamento irá desabar, me vejo num quarto com a luz apagada e tentando bem descoordenada fazer uma aula de zumba enquanto isso na cozinha deita uma barra de Hersheys fechada pois tentei abrir mas não consegui e claro foi um sinal do Universo para eu parar de descontar minha frustração dessa barulhada na comida e sim no movimento.
Sempre fui muito boa nas aulas de dança apesar de gorda mas quando não sei a coreografia fico aproximadamente no abismo entre a tristeza profunda e a depressão. Exagero, eu sei. Mas cara é tão ridículo. Eu sou ridícula.
Enquanto muitos já voltaram ao seu normal, eu tenho medo. Medo de não conseguir outro emprego, de não conseguir emagrecer, de não ter mais amigos, de não ter nenhum, de minha mãe falecer, do meu marido falecer, de eu mesma falecer sozinha nessa casa num AVC e meu marido magro não vai conseguir me carregar sozinho. Eu sou ridícula.
Respiro.
A professora muito bem maquiada segue sua elevação de joelhos e no meio da salsa me dá um sorriso. Eu sei que o sorriso é para encorajar os seres do outro lado da tela que estão desesperados (ou não) para fazer algo útil. Pra mim tá mais para: "Vai trouxa, tenta aí, qual a dificuldade de levantar esse braço? Essa perna? Hein?"
Aperto K para pausar e caí um cisco no meu olho. Aqueles que parece agulha sabe? Não é de hoje que penso que ficarei cega, neura pura.
Coloco colírio e depois de posto vejo se é colírio mesmo. Quem ia colocar outra coisa no olho? Eu sabia que era o colírio mas tinha que me certificar pois sou insegura comigo mesma. Aliás se tem alguém mais insegura sou eu. Impulsiva, intuitiva e insegura.
Eu sou ridícula.
Não to escrevendo pra ter dó de mim não. É sério.
O barulho não acaba.
Coloquei fone, pareço o Etevaldo. Mas pelo menos consegui escrever. Quanto à zumba, danço de olhos fechados e crio meus próprios passos. Impulsiva, intuitiva e insegura.