AMORAS

Suponhamos que Deus exista (não quer dizer que não acredito, mas que existem controvérsias, existem).

E que, depois das tarefas cumpridas, quisesse deixar uma marca na sua obra, algo como os pintores fazem quando assinam seus quadros.

Ele podia fazer o que bem entendesse neste sentido.

Pensou, pensou, pensou e não encontrava uma saída.

Algo como o Everest seria óbvio demais.

Um bicho bonito como leão era um caminho, mas ainda não era por aí.

Um flor bem desenhada, com aroma especial, como a rosa seria outra possibilidade.

O vento, como algo intangível mas com força incrível, talvez.

Não, ainda não.

O cérebro humano, com seus bilhões de neurônios e sinapses poderia captar a essência da sua criação - não, calma, ainda não chegou lá.

Deus estava ficando impaciente.

Diante de tantas coisas bárbaras, que deram um trabalhão danado pra serem concebidas e concluídas, não conseguia achar a coisa certa.

Caramba... A impaciência aumentava.

Então resolveu caminhar.

Escolheu uma pracinha tranquila e lá se fez presente pra tentar resolver seu dilema.

Foi quando caiu na sua cabeça uma amora.

Pretinha, madurinha toda vida, daquele jeito simples que toda amora sabe ser.

Deus pegou a amora e a observou bem atentamente.

Seus detalhes, cheiro, gosto (teve que experimentar, é claro).

Olhou pra amoreira e viu centenas de amoras vermelhas e pretas.

Lembrou do dia que a criou, estava particularmente inspirado quando imaginou uma fruta assim.

Pegou outra amora e ficou vendo a sua beleza e perfeição.

E absoluta simplicidade.

Então suspirou aliviado. Suas angústias acabaram, ufa!

A amora era o arremate que precisava para concluir seu trabalho.

Agora podia descansar de vez, com a tarefa cumprida.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 11/11/2021
Reeditado em 11/11/2021
Código do texto: T7383038
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