NOTÍCIA TRISTE
O médico é o profissional que busca diagnosticar, tratar e curar pessoas doentes.
Essa é a definição do Google.
Na minha opinião, médico não é o portador da cura, mas o guia para encontra-la, não sem antes identificar o real problema.
O professor também é uma espécie de guia para o conhecimento.
Não digo isso porque farei uma crônica sobre medicina, uma vez que não é minha especialidade. Ou porque escreverei um artigo científico sobre educação. O motivo é bem mais triste:
Fiquei sabendo hoje que um professor que dava aula na mesma escola que trabalho perdera a vida.
A notícia me atingiu como uma bala.
É interessante como nosso cérebro processa as informações sempre passando um rápido filme diante de nós.
Lembrei do dia em que o conheci. Agradabilíssima pessoa.
Era instrutor de defesa pessoal, professor de vários estilos de artes marciais, tinha uma Associação num bairro conhecido de São Paulo.
Enquanto digeria a notícia, eu regurgitava memórias da nossa última conversa.
"Você me lembra um jovem engraçado que assisto num canal do YouTube"
Eu e os demais professores rimos naquele dia. Rimos semana passada. Lamentamos hoje.
Nossa primeira conversa me marcou profundamente. O professor me falara da cultura das artes marciais, como os cursos de defesa pessoal são falhos na prática e que seu método era infalível.
Discorreu sobre tradições milenares, ensinos antigos e, principalmente, que tudo era uma questão de inteligência emocional.
"Quem te irrita, te controla". Essa frase cravou fundo em mim.
Perguntei sobre alimentação e me deu algumas dicas, embasamento científico e argumentos sobre excesso de peso e paixões internas que careciam de freio.
Falava calmamente, olhando nos meus olhos. Fiquei estarrecido com sua lógica e retórica. Quanta coisa me ensinou numa simples conversa.
Descobri que ele lançou um livro sobre Artes Marciais com o tema de inteligência emocional.
A diretora pediu nossa descrição e para não comentar nada disso com os alunos.
Morreu.
Não há mais.
Nunca mais segurarei em sua mão e receberei aquele aperto firme. Firmeza de alguém que é convicto e sincero em tudo que faz.
O que tem a ver o médico nessa história?
O médico nos guia até a cura, porém não tem a cura. Ele tem o caminho.
Este professor fora um tipo de médico para muitos. Um doutor de emoções e um instrutor físico exemplar.
O que ainda me choca é pensar que ele, antes de morrer, entrou num estabelecimento, sacou um revólver, atirou até matar o ex-patrão e, por fim, estourou a própria cabeça.
Não julgarei os motivos. Todos temos problemas.
Mas todos precisamos de cura.